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Por Redação O Sul | 4 de agosto de 2018
Em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava-Jato em Curitiba (PR), o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque afirmou que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), o ex-ministro José Dirceu e o PT dividiam dois terços da propina arrecadada em contratos da empresa Sete Brasil para construção de plataformas para exploração do petróleo do pré-sal.
“O ex-ministro Antonio Palocci não concordou com a divisão de meio a meio da propina e está determinando a divisão em um terço para a ‘casa’ [executivos da Petrobras e da Sete Brasil] e dois terços para o partido”, teria dito a ele o tesoureiro petista João Vaccari Neto. “Esses dois terços para o partido seriam divididos entre Lula, José Dirceu e o partido.”
O ex-executivo, que exerceu o cargo de 2003 a 2012, foi interrogado em ação penal que apura propinas do estaleiro da empresa Jurong. Ele diz ter ouvido de Vaccari (responsável pela arrecadação de propina para o partido na Sete Brasil), que Palocci era o responsável pelo acerto e dava as coordenadas.
No bilionário negócios de plataformas para o pré-sal, a Sete Brasil foi criada em 2010 para intermediar os contratos com estaleiros e atualmente passa por um processo de recuperação judicial.
“A propina era institucionalizada e todos os estaleiros pagavam”, afirmou o ex-diretor, multicondenado na Lava-Jato e que teve seus acordos de colaboração premiada rejeitados pelo MPF (Ministério Público Federal). Por esse motivo, ele passou a colaborar diretamente com a Justiça.
Duque admitiu a Sérgio Moro ter recebido cerca de US$ 3,8 milhões em propinas do negócio da Jurong com a Sete Brasil. O dinheiro foi pago em uma conta aberta no banco Cramer, em Milão (Itália).
Ele também relatou ter ouvido de Vaccari um pedido do ex-presidente da República para que ficasse no cargo na Petrobras até a consolidação do projeto de criação da Sete Brasil. O ex-tesoureiro do PT teria dito a ele, que recebeu “uma incumbência do Lula pedindo que eu ficasse até o término desse processo, que era muito importante não só para o País como para o PT.”
Plataformas
Os contratos de plataformas feitos desde 2011 envolveriam propina de 1% com os estaleiros Jurong, Brasfels, Enseada do Paraguaçu, Ecovix e Atlântico Sul. Ao todo, eram mais de US$ 20 bilhões em negócios. Ainda conforme Duque, os pagamentos da Jurong e dos estaleiros internacionais foram destinados aos executivos da Petrobras e da Sete Brasil.
O valor dos dois terços para o PT seria bancado pelos estaleiros criados pelas empreiteiras brasileiras, como o da Odebrecht, OAS e UTC. “Foi ele que teria pago a parte destinada a Lula”, acrescentou o delator. Ele explicou que a parte destinada a José Dirceu teria saído do estaleiro da Engevix e a do PT do estaleiro da Queiroz Galvão e Camargo Corrêa.
Dois processo de propinas de estaleiros nos negócios da Petrobrás via Sete Brasil já foram julgados. Um deles das propinas do Estaleiro Enseada Paraguaçu, da Odebrecht, OAS e UTC.
Na megadelação da empreiteira, três delatores também afirmaram que Palocci foi quem cobrou 1% de propina pelos contratos das sondas de perfuração marítima. Seriam seis unidades feitas pelas associadas.
Rogério Araújo, que era o contato da empresa no negócio, disse ter ouvido de um ex-executivo da estatal que o “Sapo Barbudo”, que seria uma referência ao ex-presidente Lula, teria dado instruções sobre o acerto ao PT.
Em 2017, no processo sobre as propinas da empresa Keppel Fels, Renato Duque já havia falado para Moro da divisão dos valores e do comando de Palocci na parte destinada a Lula.
Depoimentos
Nesta sexta-feira, o juiz da Lava Jato ouviu depoimentos de quatro réus desse terceiro processo a ser julgado na Lava Jato envolvendo o bilionário negócios dos 21 navios-sondas da Sete Brasil. Além de Duque, falaram Eduardo Musa, que era diretor da Sete Brasil, João Vaccari e Guilherme Esteves, lobista da Jurong.
Nesse processo da propina da Jurong, que tem US$ 2,1 bilhão em contratos com a Sete, a propina é de US$ 18,8 milhões. O cálculo toma como base o percentual 1% confessa por empresas e pelos agentes públicos da Petrobrás e por dois ex-executivos da Sete Brasil em suas delações premiadas.