Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 31 de março de 2019
A rede de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro no Twitter é impulsionada por um grupo pequeno. Entre os 4 milhões de seguidores de Bolsonaro no Twitter, o perfil @gomes28774783 chama a atenção. Sua atuação na rede social se restringe quase exclusivamente à defesa de assuntos de interesse do governo. Ele já chegou a fazer 16 tuítes em um minuto. Do dia 9 ao 27 deste mês, foi responsável por 3.170 publicações, o que dá uma média de uma a cada dez minutos. As informações são do jornal O Globo.
O perfil @gomes28774783 faz parte de um grupo de apoiadores de Bolsonaro no Twitter com participação ativa, no último mês, em três casos: ataque ao jornal Estado de S. Paulo com base em uma declaração falsa atribuída a uma repórter, na ofensiva contra a nomeação da cientista política Ilona Szabó para um conselho do Ministério da Justiça, e na defesa da atuação de Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos.
Realizado com auxílio do Labic (Laboratório de Estudos e Imagem de Cibercultura) da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), o levantamento do Globo constatou que um grupo de 5.843 perfis fez publicações em todos os três episódios. Apesar de representarem 9% do total de usuários que se engajaram nesses temas, foram responsáveis por quatro em cada dez postagens – @gomes28774783 foi o campeão, com 1.033 publicações.
“Os dados revelam que perfis atuam deliberadamente tentando impor uma narrativa em relação aos fatos. Como essa rede parece não ser 100% orgânica, ou seja, não é uma rede plenamente espontânea, isso leva a crer que há um mecanismo forte agindo por trás dessa máquina”, afirma Sergio Denicoli, diretor de Big Data da AP/Exata, empresa especializada em análise de redes sociais.
Contas suspensas
Segundo o jornal, após a reportagem enviar ao Twitter uma lista de 20 perfis que seriam citados na matéria, três foram suspensos temporariamente na noite de sexta-feira porque a empresa constatou comportamento suspeito. Pelas regras da plataforma, são passíveis de restrição contas que apresentam indícios de publicações automatizadas para turbinar um assunto.
O Twitter não comentou o bloqueio das contas, mas informou que “trabalha globalmente e em escala para detectar e combater proativamente spam e agentes mal-intencionados que têm como objetivo manipular as conversas na plataforma”.
Para Pedro Bruzzi, da startup Arquimedes, que faz análise do comportamento de usuários da internet, o núcleo de apoiadores pode ter o auxílio de robôs.
Os apoiadores de Bolsonaro também costumam atuar em outras redes sociais, mas, na avaliação de especialistas, o Twitter tem um peso diferente.
Apesar de serem ativos nas redes sociais, o presidente, seus filhos Eduardo e Carlos, e aliados, como o ideólogo de direita Olavo de Carvalho, não aparecem no mapeamento porque nenhum deles usou todas as hashtags analisadas.
A avaliação do comportamento dos 5.843 perfis bolsonaristas mais ativos nos três casos leva à constatação de que há dois grupos distintos atuando. O primeiro é formado pelos chamados influenciadores, que fazem poucas postagens, na maioria das vezes de autoria própria, e chegam a um grande número de usuários porque são muitos retuitados. O segundo é composto pelos propagadores, que quase não fazem postagens próprias, mas retuítam os influenciadores e são os campeões gerais de postagens.
O perfil @gomes28774783 faz parte dos propagadores. Das suas 1.033 publicações, 99,13% foram retuítes. Criado em novembro de 2018, o perfil não tem foto e segue apenas seis pessoas — Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), três ministros e a conta oficial do Palácio do Planalto. Sua forma de agir ficou evidente no caso contra o Estado de S. Paulo. Na ocasião, fez 573 postagens e ajudou a alavancar a hashtag “estadaomentiu”. O perfil não aceita mensagens.
O principal entre os influenciadores é Allan dos Santos, sócio do Terça Livre, site que iniciou os ataques à repórter Constança Rezende, do Estado de S. Paulo, com a publicação de uma declaração falsa.
Ele chegou a usar postagens de um perfil falso no Twitter para atacar a repórter. Depois, publicou uma errata dizendo que o perfil não era o de Constança. No dia 23, xingou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).