Sexta-feira, 18 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 16 de julho de 2025
Uma nova análise, feita com base em dados coletados de uma pequena população indígena da Amazônia boliviana, sugere que uma das ideias mais básicas sobre a biologia do envelhecimento humano pode estar errada. A inflamação é uma resposta natural do sistema imunológico para proteger o corpo contra lesões ou infecções.
Por muito tempo, cientistas acreditaram que a inflamação crônica e de baixo grau – em inglês, o termo “inflammaging” pode ser traduzido para algo como “inflamação do envelhecimento” – era uma característica intrínseca do envelhecer.
Os dados, porém, levantam a hipótese de que, talvez, a inflamação não esteja ligada diretamente à idade, e sim ao estilo de vida ou ao ambiente.
O estudo, publicado na Nature Aging, observou que pessoas de duas regiões não industrializadas apresentavam, ao longo da vida, um tipo diferente de inflamação em comparação com pessoas de urbanas.
A inflamação nessas populações parece estar relacionada principalmente a infecções por bactérias, vírus e parasitas, e não aos sinais de doenças crônicas, como ocorre nas populações urbanas. Ela também não parece aumentar com o avanço da idade.
Se os resultados forem confirmados por estudos maiores, podem indicar que fatores como dieta, estilo de vida e ambiente influenciam mais a inflamação do que o envelhecimento, diz Alan Cohen, um dos autores do artigo e professor associado de Ciências da Saúde Ambiental na Universidade Columbia, nos Estado Unidos.
“O ‘inflammaging’ pode não ser um produto direto da idade, mas uma resposta a condições de vida industrializadas”, diz Cohen. Para ele, isso serve de alerta para especialistas que, como ele, talvez superestimassem a prevalência desse fenômeno em escala global.
Bimal Desai, professor de farmacologia da Universidade da Virgínia, pondera que o estudo “inicia uma discussão valiosa”, mas são necessárias muitas outras pesquisas “antes de reescrevermos a narrativa do ‘inflammaging’”.
Os pesquisadores compararam amostras de sangue de cerca de 2,8 mil adultos, com idades entre 18 e 95 anos.
O fato de os marcadores inflamatórios serem tão semelhantes entre os grupos das regiões industrializadas, mas tão distintos de pessoas de outras regiões, é impressionante, afirma Aurelia Santoro, professora associada da Universidade de Bolonha, na Itália, que não esteve envolvida no estudo.
“Isso sugere que as células imunológicas são ativadas de maneiras diferentes a depender do contexto”, diz ela.
Alguns especialistas questionaram a relevância dos achados do novo estudo. Vishwa Deep Dixit, diretor do Centro de Pesquisa sobre Envelhecimento da Universidade de Yale, afirma que não é surpresa que estilos de vida com menor exposição à poluição estejam associados a taxas mais baixas de doenças crônicas.
O argumento “gira em círculos” e não comprova nem refuta se a inflamação é, de fato, causa das doenças crônicas.
De todo modo, os especialistas concordam que é preciso estudos maiores, mais diversos e que acompanhem os pacientes ao longo do tempo.
Embora tenham taxas menores de doenças crônicas, as duas populações indígenas estudadas tendem a ter uma expectativa de vida mais curta. Isso levanta a possibilidade de que simplesmente não vivam tempo suficiente para desenvolver a inflamação típica do envelhecimento, diz Aurelia.
Thomas McDade, que já estudou a inflamação no povo tsimane, especula que populações de regiões não industrializadas podem ser expostas, desde cedo, a certos microrganismos presentes na água, nos alimentos, no solo e em animais domésticos. Essa exposição precoce poderia fortalecer a resposta imunológica.
Ao mesmo tempo, quem vive em ambientes urbanos e industrializados está “exposto a muitos poluentes e toxinas”, muitos dos quais têm “efeitos pró-inflamatórios comprovados”, diz McDade.
Ainda não está claro se há algo a ser feito para controlar os níveis de inflamação em fases mais avançadas da vida.
Para quem busca envelhecer com mais saúde, o melhor caminho pode ser alimentação equilibrada e atividade física regular, que ajudam a regular o sistema imunológico ao longo do tempo – em vez de apostar em medicamentos ou suplementos vendidos como anti-inflamatórios, diz Cohen. As informações são do jornal The New York Times.