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Por Redação O Sul | 11 de abril de 2021
Projeto ajuda na memorização e resposta às aulas.
Foto: UFES/DivulgaçãoA Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) desenvolveu um método para ensinar química em instituições penitenciárias utilizando jogos adaptados para a população adulta. Com a técnica, foi averiguado aumento na aprendizagem e na memorização do conteúdo ensinado. O trabalho, desenvolvido por estudantes de química, foi apresentado em fevereiro deste ano no Simpósio da Organização Internacional para Educação em Ciência e Tecnologia (IOSTE, na sigla em inglês), na Coreia do Sul, realizado em formato online.
As autoras do projeto são Iara Koniczna e Larissa Feitosa, que cursaram química na Ufes. Elas usaram jogos feitos de material de papel para ensinar a tabela periódica e as combinações entre elementos químicos, entre outros conteúdos.
O trabalho, desenvolvido durante o estágio de Iara no Complexo Penitenciário de Xuri, em Vila Velha, foi apresentado na conclusão da graduação, em 2019. A experiência direcionou a carreira de Iara, que segue lecionando para pessoas privadas de liberdade.
A ideia surgiu diante dos desafios que Iara observou durante as aulas que acompanhou no Complexo Penitenciário, que possui uma série de restrições. Não é possível, por exemplo, fazer experimentos químicos.
Em algumas unidades, segundo Iara, os presos não podem sequer levar os livros para as celas para estudar, nem ter acesso a lápis fora dos horários de aula. “Tem sempre o mesmo problema, o esquecimento. Com o jogo, eles acabam fazendo mais conexões e conseguem ter melhor aprendizado e melhor memorização a respeito do conteúdo trabalhado”, diz Iara.
As estudantes basearam-se no jogo de tabuleiro Tabela Maluca, desenvolvido em pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), para explicar os conceitos e propriedades dos elementos químicos. Outro jogo usado foi Batalha Naval, para ensinar dados dos elementos químicos, como período, números atômicos e raio atômico.
“Aplicamos um questionário com perguntas abertas sobre a tabela periódica e as respostas dos alunos foram muito frustrantes. Na outra semana, utilizamos os jogos e, depois, aplicamos o mesmo questionário. As respostas foram gratificantes”, conta. Ao final, 98% dos estudantes disseram que gostaram da aula.
Educação em prisões
Segundo a professora do Departamento de Teorias do Ensino e Práticas Educacionais do Centro de Educação da Ufes Mari Inêz Tavares, orientadora do projeto, ainda são poucas as pesquisas e os materiais desenvolvidos especificamente para o público adulto. São ainda mais escassos os estudos voltados à educação de pessoas privadas de liberdade. No trabalho, foi preciso adaptar o jogo para esse público específico.
“Tem que ser um material que priorize a memória, já que eles não podem levar para dentro da cela nem para estudar nem para jogar. Tem que ser um material que facilite ao professor o controle visual enquanto está trabalhando com alunos, porque eles não podem esconder material com eles e levar. Se isso ocorrer, deve ser comunicado à segurança. E, tem que ser material um barato, leve, que seja fácil do professor levar para sala de aula”, explica. “O trabalho tem chamado atenção. Eu tenho recebido mensagens de professores e alunos de mestrado que trabalham no sistema prisional, que estão desenvolvendo pesquisas e que estão em busca de materiais.”
Pela Lei de Execução Penal, Lei 7.210/1984, os sistemas de ensino devem oferecer aos presos cursos supletivos de educação de jovens e adultos. Foi acrescentado à lei, em 2015, a oferta do ensino médio, regular ou supletivo, com formação geral ou educação profissional de nível médio, visando a universalização desta etapa.
Atualmente, de acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), há cerca de 750 mil pessoas cumprindo pena em unidades prisionais no Brasil. Destes, 93 mil – o equivalente a 12% – estudam, seja na alfabetização (9,7 mil), no ensino fundamental (31 mil), no ensino médio (15 mil), superior (738) ou em outras atividades educacionais.