Sábado, 10 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 5 de novembro de 2016
Aos 35 anos, Caio Abreu tinha a vida profissional ganha: passagem por grandes escritórios de advocacia, faturamento alto na própria empresa e dois filhos pequenos crescendo com conforto ao lado da mulher em São Paulo. Ele resolveu, contudo, largar a carreira e se reinventar no mundo dos negócios com uma missão ousada: criar a primeira indústria brasileira de medicamentos à base de maconha. O projeto reúne investidores, cientistas de ponta e parceiros em países que já regulamentaram a Cannabis medicinal, como Canadá e Holanda.
Cannabis medicinal.
O plano já possui autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para importar 20 quilos de matéria-prima e desenvolver o primeiro “candidato a medicamento”, que ainda precisará passar por testes em humanos para uma eventual liberação comercial. A empresa tenta avançar com cautela, já que o uso medicinal da maconha ainda dá seus primeiros passos legais no Brasil.
A empreitada de Abreu mira, naturalmente, o potencial econômico desse mercado, que já movimenta bilhões de dólares em países como Estados Unidos, Reino Unido, Israel, Canadá e França. Só nos Estados Unidos as vendas legais de Cannabis para fins médicos e recreativos somaram 2,6 bilhões de dólares (algo em torno de 8,4 bilhões de reais) em 2014, segundo a revista britânica The Economist.
Drama pessoal.
No entanto, foi um drama pessoal que chamou a atenção do advogado para o potencial terapêutico da planta. Em 2005, Sueli, sua mãe, começou a reclamar de dores na base da coluna. Passou por um sem-número de médicos até uma amiga enfermeira sugerir um proctologista, que detectou um agressivo câncer no reto. O câncer atingiu o útero e passou a provocar dores excruciantes – causadas pela compressão dos nervos pelo tumor –, amenizadas com base de morfina.
Foi quando Sueli quis tentar uma alternativa, a maconha, que pode tornar o efeito da quimioterapia tolerável para certas pessoas. Abreu se desdobrou e conseguiu maconha para a mãe – recorrendo, claro, ao mercado ilegal. O uso, diz o filho, ajudou a minimizar a dor da compressão dos nervos pelo tumor e efeitos da quimioterapia, como náuseas, vômitos e falta de apetite.
“Aquela foi a semente que me despertou para o fato de que aquilo funcionava. Hoje acredito que poucos usos da Cannabis são efetivamente recreativos [dada a variedade de usos medicinais]”, afirma ele, que prefere sempre citar a planta pelo nome científico.
Sueli sucumbiu ao câncer em dezembro de 2009, aos 58 anos.
Força para concretizar o projeto.
Apesar da tragédia, Abreu criou a Entourage Phytolab. O primeiro objetivo da Entourage é desenvolver, testar e aprovar um extrato fitoterápico à base de maconha, com presença dos dois principais compostos: CBD (não psicotrópico) e THC (psicotrópico). A Entourage deverá receber as flores in natura de Cannabis neste ano, e a extração dos compostos será feita usando tecnologia brasileira numa universidade pública de ponta – Abreu prefere ainda não mencionar o nome da instituição. Ele espera realizar ensaios clínicos até meados de 2017 e começar a vender ao Brasil no mesmo ano. O primeiro extrato deverá ter várias formas de apresentação, como uma específica para crianças e comprimidos para adultos. Um segundo produto deverá ser um extrato com maior concentração de THC. “Muitos médicos não veem a hora de poder prescrever”, garante, confiante, o empresário.