Segunda-feira, 07 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2024
A situação dos seis venezuelanos asilados na Embaixada da Argentina em Caracas, ainda sob custódia do Brasil, se transformou numa dor de cabeça para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ao contrário do que aconteceu com o ex-candidato presidencial Edmundo González Urrutia, que, após semanas de negociações envolvendo os governos da Holanda e Espanha, obteve um salvo-conduto para sair da Venezuela no sábado, os opositores estão, segundo fontes da oposição venezuelana, longe de obter o mesmo benefício.
Por que o regime de Nicolás Maduro resiste a autorizar a saída do País de Pedro Urruchurtu, Magalli Meda, Claudia Macero, Humberto Villalobos — quatro importantíssimos colaboradores da líder opositora María Corina Machado —, do ex-deputado Omar González e do dirigente opositor Fernando Martínez Mottola? Não existe uma única resposta para a pergunta, mas fontes consultadas em Caracas afirmaram que “a presença dos seis asilados permite a Maduro intimidar permanentemente a oposição, sobretudo a ala comandada por María Corina, além dela própria”. Hoje, a sensação em Caracas é de que os planos de Maduro para os seis asilados é a prisão, e não a liberdade no exterior.
Nos últimos meses, o governo argentino, que após as eleições presidenciais de 28 de julho rompeu relações com Caracas, tentou obter um salvo-conduto para os asilados em sua residência diplomática. Fontes em Buenos Aires confirmaram que “o governo de Milei está disposto a receber os asilados na Argentina, e dar a eles toda a proteção necessária”.
Paralelamente, o governo brasileiro ofereceu enviar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) à capital venezuelana, para trasladar os asilados até Buenos Aires. O oferecimento foi reiterado ao governo argentino nos últimos dias, em contatos entre altas autoridades dos dois países. Para o Brasil, tirar os opositores da embaixada argentina seria um alívio, já que, apesar de ter tido a autorização para custodiar a sede diplomática revogada, o País continua representando a Argentina e só deixará de fazê-lo quando for designado um novo País. A escolha desse novo País deve ser negociada entre argentinos e venezuelanos, frisaram fontes oficiais. Não cabe ao Brasil participar dessa negociação.
Em Buenos Aires, fontes argentinas afirmaram que foram retomados os contatos com países que foram sondados, assim como o Brasil, após a ruptura de relações entre Argentina e Venezuela. Mas não se trata de tarefa fácil, já que uma nova escolha deverá ser aprovada pelo regime venezuelano.
Alimentação
Enquanto isso, os seis asilados recebem alimentos por parte de funcionários venezuelanos que trabalham na residência argentina. Alguns dias são autorizadas visitas de familiares pelas autoridades, e, neste caso, sim cabe ao Brasil fazer as gestões. Todos os dias, um diplomata brasileiro vai à embaixada argentina checar a situação dos asilados.
O clima está cada vez mais tenso, porque os quatro colaboradores de María Corina continuam trabalhando com a líder opositora, alguns escrevendo em redes sociais e fazendo articulações políticas. O regime os acusa de violar as normas da Convenção de Viena, o mesmo tratado internacional que permitiu que o Brasil assumisse a custódia da embaixada argentina.
Os quatro colaboradores de María Corina também são acusados de participar em supostas conspirações militares contra Maduro. Sobre essa acusação não foram apresentadas provas, como costuma acontecer na ditadura venezuelana. Os mais 2 mil detidos após a eleição presidencial foram acusados de terrorismo, sem prova alguma.
Este pano de fundo torna a situação dos asilados cada dia mais delicada, e a possibilidade de obter um salvo-conduto mais remota. Para Maduro, ter o controle sobre esses seis opositores significa, na prática, ter poder sobre María Corina. Os colaboradores da líder opositora, que prometem “resistir em suas redes sociais”, se comunicam com ela permanentemente, e alguns são peça-chave em sua equipe. Pedro Urruchurtu é assessor internacional do Vem Venezuela, partido fundado e comandado pela líder opositora, e Magalli Meda uma das principais assistentes de María Corina, considerada seu braço-direito.
González e Villalobos não pertencem ao círculo íntimo da líder opositora. Ambos integram a Plataforma Unitária, formada por vários partidos opositores. No entanto, também sofrem intimidações, disseram fontes da plataforma.
Uma fonte assegurou que “eles são usados para intimidar e pressionar María Corina. Os seis asilados, frisou a fonte, “sofrem ameaças de prisão”, embora isso implique uma invasão da sede diplomática, ou seja, uma gravíssima violação da Convenção de Viena. As informações são do O Globo.