Saúde Videogame ajuda a tratar olho preguiçoso
Por Redação O Sul | 30 de maio de 2015
Usar um tampão no olho direito é um problema para Cauã Aguiar Durães Correia, 6 anos. Ele não quer saber de brincar que é um pirata e reclama do objeto, que pode reverter os efeitos da ambliopia, também conhecida como olho preguiçoso, doença que reduz a capacidade visual de um dos olhos. Diante do videogame, porém, a tarefa fica mais fácil para o menino.
Cauã está no grupo de pacientes que aguardam o lançamento mundial do jogo Dig Rush (Ubisoft), anunciado em março, e que se apresenta como o primeiro game voltado para crianças com ambliopia.
O objetivo dele é estimular os dois olhos enquanto o paciente o joga utilizando um óculos 3D. O videogame aguarda regulamentação da FDA (Food and Drug Administration, agência que fiscaliza remédios e alimentos nos Estados Unidos).
“É uma ideia interessante. A criança já não quer usar os óculos, imagine o tampão. Ele tem pouca visão do olho esquerdo e não quer tampar o direito. Se for um jogo, é mais fácil. Quando usa o tampão, ele fica no videogame ou na televisão”, conta a mãe do menino, a Débora Correia da Silva, 29 anos.
A ambliopia em Cauã foi descoberta por acaso, quando o menino acompanhou uma consulta do pai ao oftalmologista e foi examinado. “Não dava para perceber que ele tinha um problema. Descobrimos há poucos meses. Ele faz birra com o tampão. A gente disse que é como se fosse um pirata, mas ele fala que não gosta de pirata.”
Tecnologia é aliada.
O oftalmopediatra Kássey Vasconcelos assinala que a tecnologia pode ser uma aliada do tratamento tradicional, feito com o tampão. “Já é comum deixar o paciente com o olho tampado na frente do videogame, pois é estímulo visual. Esse software é revolucionário, porque faz com que os dois olhos sejam estimulados. Ele tenta fazer com que, de uma maneira lúdica, ocorra o tratamento”, garante.
Apesar da proposta inovadora, Vasconcelos explica que é necessário aguardar o parecer da FDA para falar sobre a eficácia do produto. “Para um primeiro momento, é uma grande novidade. Se vai funcionar, os estudos vão dizer”, projeta.
Produtor sênior da Ubisoft, Mathieu Ferland destaca que ainda não há data de lançamento para o jogo, no entanto, ele deve ser liberado para todo o mundo. “A intenção é que o tratamento esteja disponível primeiro no mercado americano, seguido pelo Canadá e, então, pela Europa. Há potencial para fazer com que a terapia seja disponível em escala mundial.” De acordo com Ferland, aproximadamente 3% da população do mundo tem ambliopia.
O médico oftalmologista Mauro Goldchmit é cauteloso ao falar sobre o tema. “Os jogos exercitam [o olho] de forma mais lúdica, mas ainda estamos carentes de publicações que tenham fundamento científico.” O especialista destaca a importância de levar as crianças nos primeiros anos de vida ao oftalmologista. “Os exames devem ser feitos de forma precoce.”
Uso recorrente.
Fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia são especialidades que usam a gameterapia. “Muitos jogos têm função terapêutica, fortalecem o vínculo com o paciente, ajudam em dificuldades neurológicas e na reabilitação física”, explica a especialistas em gameterapia e arteterapeuta Camila Volpe.
Segundo ela, o videogame facilita o contato com o paciente. “Quando é difícil entrar em contato com a criança, qualquer jogo que você oferece abre uma porta.” Para Camila, só é preciso ter cuidado com excessos, pois a criança deve ter outras atividades na rotina.
“A terapia com jogos possibilita fazer as técnicas tradicionais de forma mais interessante. O game oferece movimento, sons e cores que se parecem mais com a realidade”, descreve o fisiatra Daniel Rubio de Souza. (AE)
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