Sexta-feira, 02 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 25 de junho de 2023
O líder russo, Vladimir Putin, fez um acordo com mercenários que ameaçavam dar um golpe e rumavam em tanques para Moscou. O autocrata russo falou grosso em rede nacional. Prometeu esmagar o movimento que o desafiou e acusou de traição o líder do grupo mercenário Wagner, Ievegni Prigozhin – informação sobre ele em sites de busca locais foi bloqueada. O peso de abrir uma segunda frente de batalha levou a uma alteração no tom. Dezesseis meses após ordenar a invasão da Ucrânia, Putin passa pelo seu momento mais frágil em 23 anos no poder.
O recuo dos rebeldes foi intermediado pelo ditador de Belarus e aliado de Putin, Alexander Lukashenko. Em troca do fim do motim, veio a promessa de que não haverá punição aos envolvidos. Para os que não participaram diretamente da ação foram oferecidos até empregos no governo. O líder dos mercenários se exilará em Belarus.
Um Vladimir Putin enfraquecido como em nenhum outro momento de seus 23 anos no poder da Rússia fez acordo com mercenários que ameaçavam dar um golpe e rumavam em tanques para Moscou. O autocrata russo chegou a falar grosso em rede nacional. Acusou o líder do Grupo Wagner, Ievegni Prigozhin, de traição e ameaçou o movimento que o desafiou abertamente. À tarde, o peso de abrir uma segunda frente de batalha, interna, falou mais alto. O recuo dos rebeldes foi intermediado pelo ditador de Belarus e grande aliado de Putin, Alexander Lukashenko, com uma promessa: não haverá punição aos insurgentes.
Prigozhin ordenou que seus mercenários interrompessem a marcha para Moscou e retornassem para suas posições na Ucrânia. No anúncio, disse que suas tropas chegaram a 200 quilômetros da capital russa sem provocar derramamento de sangue, mas que o risco de isso acontecer havia se tornado iminente. “Percebendo toda a responsabilidade para o fato que o sangue russo será derramado, de um lado, estamos virando nossa marcha e partindo na direção oposta”, disse. Ele se exilará em Belarus.
Imagens veiculadas na tarde de ontem mostram os veículos do Grupo Wagner deixando a cidade de Rostov-on-Don, no sul da Rússia, que havia sido ocupada mais cedo. A cidade fica próxima à fronteira com a Ucrânia, onde as tropas mercenárias operavam. Prigozhin deixou o quartel-general de Rostov ovacionado por parte da população, em um veículo de luxo blindado. Informação sobre ele em sites de busca russos foi bloqueada.
O cessar-fogo impede que o conflito interno nas forças que combatem os ucranianos termine em violência, por ora, mas não apaga o efeito desmoralizante para Putin, que em seu discurso havia chamado o motim de traição equivalente a desferir “uma punhalada nas costas de nosso país e de nosso povo”.
A acusação russa contra o líder mercenário por “organizar uma rebelião armada” foi arquivada. Como parte do acordo selado, aqueles que não participaram do motim receberão ofertas de contratos do Ministério da Defesa, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, sem fazer menção a uma possível mudança de liderança no ministério. Os mercenários que participaram do motim ficarão impunes em razão do “serviço no front contra os ucranianos”, acrescentou Peskov. O governo russo ainda disse que considera “impensável” que o motim frustrado afete a ofensiva militar na Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que a insurreição nas tropas a serviço da russa demonstra haver caos na Rússia.
Enfraquecido
Apesar do recuo do Grupo Wagner, a crise deixa uma mancha sobre o poder de Putin na Rússia ao mostrar que ele precisa lidar com uma crescente instabilidade doméstica. As fragilidades da defesa russa também se tornaram evidentes.
Segundo o professor de relações diplomáticas da ESPM, Gunther Rudzit, o recuo indica que o serviço de segurança nacional da Rússia não estava preparado para enfrentar os mercenários. “Putin sairia desta situação como um líder forte se tivesse esmagado as forças do Grupo Wagner”, declarou.
Para outros analistas, se o motim tivesse continuado, os mercenários enfrentariam um sistema de defesa “à prova de golpe” em Moscou, projetado durante a era soviética. A capital tem uma sobreposição de serviços de segurança, de maneira que tenha condições de resistir a uma insurreição armada. “Isso foi construído para ser um sistema o máximo possível à prova de golpes”, disse Mark Galeotti, especialista em serviços de segurança da Rússia.