Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 27 de outubro de 2022
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, supervisionou remotamente exercícios militares que incluíram a simulação de um contra-ataque nuclear. O treinamento das forças de dissuasão estratégica russas, encarregadas de responder a ameaças, inclusive nucleares, ocorre em meio a temores renovados de que Moscou possa usar armas atômicas na guerra na Ucrânia, depois que o Kremlin denunciou supostos planos de Kiev de explodir uma “bomba suja”.
Em comentários televisionados, o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, disse a Putin que os exercícios pretendiam ensaiar “um ataque nuclear maciço” em resposta a uma investida com armas atômicas contra a Rússia. Os exercícios incluíram o lançamento de mísseis balísticos intercontinentais da Península de Kamchatka, no extremo leste russo, e outro a partir das águas do Mar de Barents, no Ártico. O exercício também envolveu aviões bombardeiros de longo alcance Tu-95, que dispararam mísseis de cruzeiro.
“Sob a liderança do comandante supremo das Forças Armadas, Vladimir Putin, as forças de dissuasão estratégica terrestres, marítimas e aéreas realizaram treinamento, durante o qual foram feitos lançamentos práticos de mísseis balísticos e de cruzeiro”, disse o Kremlin em nota. “As tarefas definidas durante o exercício de treinamento de dissuasão estratégica foram totalmente cumpridas, com todos os mísseis atingindo seu alvo.”
Autoridades russas negam que planejem usar armas atômicas, mas desde o fim de semana Shoigu vem acusando a Ucrânia de tramar a detonação de uma “bomba suja” — artefato convencional envolto em materiais radioativos, que após a detonação se espalham no ambiente. Na quarta (26), o próprio Putin se juntou às advertências.
“São conhecidos planos de uso da chamada bomba suja como provocação”, disse o presidente russo em outra videoconferência, com chefes da área de Inteligência, na qual também acusou os EUA de entregarem “armas pesadas” para a Ucrânia e aumentarem o risco de transbordamento do conflito.
Kiev e seus aliados rejeitam as alegações, e acusam a Rússia de buscar pretextos para uma escalada na guerra. Na terça, o presidente americano, Joe Biden, havia mais uma vez advertido Moscou contra o uso de armas nucleares ou radioativas na Ucrânia.
“Passei muito tempo, hoje, falando sobre isso”, disse Biden. “Digamos apenas que a Rússia estaria cometendo um erro incrivelmente grave se usasse uma arma nuclear tática”, completou, referindo-se a um tipo de bomba atômica de menor potencial.
O ministro Shoigu conversou com seus homólogos chinês, Wei Fenghe, e indiano, Rajnath Singh, sobre “a situação na Ucrânia” e compartilhou “suas preocupações sobre possíveis provocações da Ucrânia com o uso de uma ‘bomba suja’”. No fim de semana, Shoigu já havia telefonado para o colega americano, Lloyd Austin, para fazer a mesma acusação.
A Rússia “tomará medidas fortes” para convencer a comunidade internacional a “tomar medidas ativas para prevenir” um eventual uso de uma “bomba suja” pela Ucrânia, insistiu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
A Rússia já realizou exercícios nucleares uma vez este ano, em fevereiro, pouco antes de invadir a Ucrânia. Na ocasião, Putin convidou o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, para se juntar a ele. Os exercícios envolvendo submarinos, aviões e mísseis acontecem tradicionalmente em outubro, mas foram pulados em 2021 devido à pandemia de covid.
Os EUA disseram na terça (25) que a Rússia havia notificado Washington dos planos para as manobras, conhecidas como Grom (“Trovão”, em russo). Segundo o secretário de imprensa do Pentágono, Patrick Ryder, “este é um exercício anual de rotina”.