Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de dezembro de 2021
Nenhum lugar do mundo teve uma chuva tão volumosa e numa área abrangente como o Estado da Bahia no mês de dezembro. De acordo com a empresa de meteorologia Metsul, que coletou dados na base de monitoramento global de precipitação da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês), a agência climática do governo dos Estados Unidos, a quantidade de água na região ficou acima da normalidade.
O mapa de anomalia de precipitação, que mostra as chuvas entre os dias 24 de novembro e 24 de dezembro mostra áreas do Sudeste Asiático, perto da Indonésia e Papua Nova Guiné, com volume mais abrangente de águas, mas a região do Estado da Bahia é a maior do mundo com intensa precipitação.
A tragédia baiana foi deflagrada por um fenômeno chamado Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), colossal canal de umidade trazida do mar que “estaciona” sobre determinadas áreas, causando chuva intensa e inundação por dias. Um conjunto de fenômenos meteorológicos raros tem causado essa “anomalia” no clima baiano.
“A ZCAS se espalhou pela Bahia, o que é totalmente fora do normal, e despejou aguaceiros numa região cerca de 1.000 quilômetros ao norte da que costuma ocorrer (o Sudeste). E esse fenômeno, que por si só já seria raro, aconteceu duas vezes no mesmo mês”, destaca o cientista do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), instituição que alertou com antecedência de cinco dias sobre o risco de tragédia na Bahia e cuja ação coordenada com a Defesa Civil e prefeituras baianas permitiu a retirada de muita gente de áreas de risco, evitando que o número de mortos fosse ainda maior.
A análise de anomalia de chuva global da NOAA, que teve os dados analisados pelo Metsul, é feita com base no sistema CMAP, conjunto de dados de precipitação construído a partir de análise de medições feitas por estações meteorológicas e pluviômetros, além de estimativas derivadas de satélite. As estimativas baseadas em satélite e/ou reanálise são ponderadas de acordo com a análise das medições que se presume mais precisas, afirma o site. O volume tão alto de chuvas explica as inundações inéditas em tantas cidades do estado.
O município que registra maiores índices de precipitação é Itamaraju, no Sul da Bahia, com 769,8 mm registrados no mês de dezembro, de acordo com o Cemaden, o que equivaleria a cinco vezes mais do que a média de precipitação do mês, que costuma ficar entre os 148,0 mm.
Números
Com base em informações recebidas das prefeituras, a Sudec (Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia) atualizou, na tarde desta quarta-feira (29), os números referentes à população atingida pelas enchentes que ocorrem em diversas regiões do Estado. São 37.324 desabrigados, 53.934 desalojados, 24 mortos e 434 feridos. O número total de atingidos chega a 629.398 pessoas.
As outras três mortes confirmadas nesta quarta-feira são de um casal que teve o carro arrastado pela enxurrada, em São Félix do Coribe; e de um homem, morador de Ubaitaba, atropelado por um motorista que perdeu a visibilidade por causa das chuvas. Os municípios com vítimas fatais são: Amargosa (2), Itaberaba (2), Itamaraju (4), Jucuruçu (3), Macarani (1), Prado (2), Ruy Barbosa (1), Itapetinga (1), Ilhéus (2), Aurelino Leal (1), Itabuna (2), São Félix do Coribe (2) e Ubaitaba (1).
Governo federal dispensa ajuda
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil dispensou o apoio oferecido pelo governo da Argentina ao Estado da Bahia. A decisão da União foi comunicada ao governo estadual pelo consulado argentino na noite desta quarta-feira.
O país vizinho pretendia enviar imediatamente ao Sul da Bahia uma missão com profissionais especializados nas áreas de água, saneamento, logística e apoio psicossocial para vítimas de desastres. Pelo Twitter, o governador Rui Costa havia agradecido a oferta de ajuda humanitária e pedido celeridade ao governo federal para autorizar a missão internacional.
Na dispensa da ajuda, feita por meio de documento oficial, o governo brasileiro agradeceu a proposta argentina e informou que a situação na Bahia “está sendo enfrentada com a mobilização interna de todos os recursos financeiros e de pessoal necessários”. Ainda de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, “na hipótese de agravamento da situação, requerendo-se necessidades suplementares de assistência, o governo brasileiro poderá vir a aceitar a oferta argentina de apoio da Comissão dos Capacetes Brancos, cujos trabalhos são amplamente reconhecidos”. As informações são do jornal O Globo e do governo da Bahia.