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Por Redação O Sul | 15 de setembro de 2019
No mês de agosto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, questionou durante um evento em São Paulo “desde quando o Brasil precisou da Argentina para crescer”. Agora, um estudo do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) mostra o efeito da forte recessão do país vizinho sobre o crescimento brasileiro, que é expressivo. Em 2018, a crise argentina tirou 0,2 ponto percentual do PIB e, neste ano, deve ter impacto negativo de pelo menos 0,5 ponto. As informações são do jornal Valor Econômico.
Para efeito de comparação, a economia brasileira cresce ao redor de 1% desde o fim da recessão, que durou do segundo trimestre de 2014 ao quarto trimestre de 2016.
No estudo, as economistas Luana Miranda e Mayara Santiago calculam o reflexo da forte queda das exportações para o vizinho sobre o valor adicionado da indústria de transformação e dos segmentos de transportes e comércio, que são em parte influenciados pela atividade manufatureira. Produtos industriais respondem por cerca de 90% das vendas do Brasil para a Argentina. O trabalho será apresentado na tarde desta segunda-feira, em seminário de análise conjuntural promovido pelo Ibre/FGV, no Rio.
Em quantidade, segundo levantamento inédito feito pelas economistas, as vendas totais do Brasil para a Argentina caem desde o segundo trimestre do ano passado, com os piores momentos entre o quarto trimestre de 2018 (-44%) e o primeiro deste ano (-45%).
Ainda assim, a Argentina é o quarto maior mercado para os produtos brasileiros, depois de China, UE (União Europeia) e EUA. Os automóveis são parte importante dessa pauta de exportação, mas não só. O mercado argentino é relevante também para os bens intermediários.
O levantamento mostra que, do total exportado para a Argentina, 57,4% se encaixam nessa categoria, que compreende os insumos para compor a cadeia produtiva da indústria local. “Dentro dos intermediários, chama atenção que 16% das peças para equipamentos de transporte vendidos pelo Brasil vão para o vizinho”, ressalta Luana. E, apesar da queda, 58% dos automóveis exportados pelo Brasil de janeiro a agosto deste ano foram para lá.
Num exercício contrafactual, sem os efeitos da crise do vizinho o valor adicionado da indústria de transformação brasileira teria crescido 2,2% em 2018, ante o resultado oficial de 1,3%. Para 2019, a projeção é de que o PIB da indústria cresceria 2,1%, ante o 0,2% estimado pelo Ibre. Para calcular o impacto no terceiro e quarto trimestres deste ano, as economistas projetaram a quantidade a ser exportada para a Argentina com base no cenário elaborado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para a demanda interna do país. O cálculo supõe uma desaceleração gradual da queda das exportações brasileiras para o país até chegar a uma queda de 8% em dezembro.
Num mesmo exercício contrafactual feito pelas economistas, livre do efeito Argentina, o valor adicionado do comércio teria crescido 2,7% em 2018, ante os 2,3% apurados pelo IBGE. O dos transportes teria se expandido 2,5%, ante 2,2%, e os impostos teriam aumentado 1,8%, ante 1,4%. Nas projeções para 2019, o valor adicionado do comércio cresceria 2,9, ante a previsão de 1,9%. Os transportes aumentariam 1,8%, ante previsão de 1%, e os impostos subiriam 2,3%, ante 1,3%.
A conclusão é que a crise econômica argentina tirou 0,2 ponto do PIB de 2018, que cresceu 1,1%. Para 2019, o Ibre-FGV estima PIB de 1,1%, projeção acima da mediana do mercado, de 0,87%. Assim, o resultado, sem a crise do vizinho, poderia chegar a 1,6%.