Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Porto Alegre

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Mundo A renúncia do presidente Evo Morales causou um debate internacional sobre como caracterizar os eventos na Bolívia

Compartilhe esta notícia:

Quem infringe a determinação do governo pode ir preso, além de ter que pagar uma multa. (Foto: Divulgação)

Levante ou Golpe: Especialistas dizem que definições sobre o que é um e o que é outro mudaram nas últimas décadas, hoje servindo mais para legitimar pontos de vista diferentes. Alguns destacam a narrativa de uma revolta popular contra um presidente que se encaminhava em direção ao autoritarismo. Outros dizem que foi uma intervenção militar direta. A renúncia do presidente Evo Morales causou este debate internacional sobre como caracterizar os eventos na Bolívia.

Muito embora os detalhes tenham sido pouco divulgados, os dois lados possuem evidências para marcar suas posições. Porém a coexistência de duas interpretações pode sinalizar uma verdade importante, na visão de especialistas: a linha entre um golpe e uma revolta pode não ser clara, por vezes inexistente.
Por vezes, são apenas uma coisa: levantes públicos ao lado de dissidências entre os militares que levam à renúncia ou remoção de um líder nacional. Mas a sobreposição de termos por vezes traz conotações morais que não poderiam ser mais divergentes: golpes, na compreensão atual, devem ser condenados; revoltas devem ser comemoradas.

“Pessoas que se prendem à ideia se é um golpe ou uma revolução estão fugindo do ponto, diz Naunihal Singh, especialista em transições de poder e golpes. “A questão é o que acontece depois.”

Isso abriu espaço para um tipo de guerra linguística, onde uma tomada política pode ser retratada como legítima ao receber o selo de revolta, ou ilegítima ao ser considerada um golpe. A construção de uma narrativa “tem consequências” para o tipo de governo que vem em seguida, diz Singh. Transições como a da Bolívia tendem a ser fluidas ou imprevisíveis. A percepção de legitimidade, ou sua ausência, podem ser decisivas.

Percepções populares de golpes, cimentadas na época da Guerra Fria, ainda trazem uma imagem de tanques nas ruas e generais anunciando a tomada de poder. Revoluções, por outro lado, são vistas como cativantes, até românticas, com as pessoas se unindo para pedir mudanças, em uma só voz, até que o líder não tenha escolhas a não ser renunciar, em desgraça.

Isso criou uma expectativa global de que qualquer remoção de um líder do poder poderia ser alocada em um desses arquétipos, com os termos “golpe” e “revolta” sendo usados para distinguir transições legítimas daquelas consideradas ilegítimas.

Mas o mundo mudou. A maior parte dos governos militares mudou para a democracia. As normas globais, outrora tolerantes a golpes, agora os tratam como um tabu. Ainda assim, em uma era de populismo e autoritarismo em alta no mundo, líderes eleitos se sentem cada vez mais seguros ao testar os limites de seus poderes.
Como resultado, as linhas entre golpes e revoltas ficaram cada vez mais indefinidas.

Hoje em dia, golpes por vezes ocorrem após levantes populares por mudanças, com generais descrevendo suas intervenções como temporárias, para restaurar a democracia. E poucos, bem poucos, levantes populares tiveram sucesso sem o apoio dos militares, mesmo na situação dos generais recusarem dar apoio ao governo.

O cientista político Jay Ulfelder se referiu a isso como “Golpe de Schrödinger”, citando o físico austríaco Erwin Schrödinger e sua ideia de que, em alguns casos, “existe um estado perpétuo de ambiguidade, ao mesmo tempo sendo um golpe e não-golpe”, sem esperança de forçar os eventos em uma categoria “única e clara”.

Tentativas para colocar um rótulo por vezes se encontram com situações desconhecidas. Quando os generais anunciam que o presidente deveria deixar o cargo, eles estão ameaçando usar a força ou sinalizando que não vão dispersar os manifestantes? Isso importa, no final das contas?

Ao que parece, os eventos na Bolívia se encaixam na concepção popular de uma revolução das ruas, com cidadãos lotando as ruas para pedir a renúncia de um líder que se recusou a seguir os limites ao seu poder, por vezes recrutando instituições poderosas à esquerda e à direita para chegar a esse objetivo. O governo segue nas mãos de civis eleitos, que prometeram novas eleições e Morales permanece livre.

Ele também parece se encaixar na concepção popular de golpe, com os militares defendendo a saída do presidente e, com isso, Morales dizendo que sua saída do cargo foi um golpe. Muito embora tenha amenizado sua linguagem e aceitado o asilo no México.

Em uma concepção, o povo heroicamente salvaram a democracia; na outra, algumas elites o traíram. As duas usam os mesmos fatos.

Os protestos na Venezuela esse ano ofereceram a mesma narrativa confusa, com grandes multidões nas ruas expressando seu ultraje com as ações do governo para ampliar seu poder e elevadas por líderes da oposição para quem uma intervenção militar era a única forma para obter uma mudança.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Mundo

Um dos precursores do tratamento que usa células e anticorpos contra o câncer, médico Robert Peter Gale vem ao Brasil esta semana
“A Grande Mentira”: Hellen Mirren e Ian McKellen contracenam em novo suspense
https://www.osul.com.br/a-renuncia-do-presidente-evo-morales-causou-um-debate-internacional-sobre-como-caracterizar-os-eventos-na-bolivia/ A renúncia do presidente Evo Morales causou um debate internacional sobre como caracterizar os eventos na Bolívia 2019-11-17
Deixe seu comentário
Pode te interessar