Quinta-feira, 10 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 19 de outubro de 2019
Esse sábado teve mais um capítulo na briga interna do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, mas que ele não controla. Durante reunião, dirigentes da sigla resolveram encaminhar uma representação contra Daniel Silveira (RJ) ao Conselho de Ética de sua própria bancada na Câmara dos Deputados. A atitude é vista como inédita na história recente da política brasileira.
Trata-se do parlamentar que gravou uma reunião de colegas de legenda, na qual o deputado Delegado Waldir (GO) anunciou que iria “implodir” o presidente e chamou-o de “vagabundo”. É a primeira vez que uma legenda tenta tirar o mandato de um de seus próprios integrantes. A acusação é de quebra do decoro parlamentar.
Silveira diz não temer a representação: “Não cabe cassação. Podem pedir por qualquer coisa, até porque falei que menino veste azul e menina veste rosa. O problema é caber”.
O parlamentar fluminense acredita ser alvo de um complô por parte de seus acusadores. “Foram gravados várias vezes, eles mesmos já gravaram conversas. Quando atende a interesses deles, tudo bem. Mas quando é para f* com a República ou acabar com o presidente, aí não pode gravar?”, questionou.
Silveira duvida da cassação, mas se acontecer diz que volta ao Legislativo federal. “Se cassarem meu mandato eu vou ser eleito de novo”, desafiou. Ele reconhece, porém, que o relacionamento com seus colegas de bancada ficou difícil após o episódio da gravação da reunião.
“Vão jogar piadinha, mas eu c* e ando”, prosseguiu, lançando mão de um vocabulário onde não faltam palavrões. “Eu nunca faria isso em momento nenhum, mas é uma situação extrema. Vai fazer uma reunião danosa à República, claro que vou gravar. E gravaria filmando, ainda, se pudesse.”
“Quando você vê um grupo dizendo que vai ‘implodir’ o presidente da República, no momento em que o Brasil está buscando um governo sério, precisa fazer alguma coisa”, justificou. “Tem um bando de deputados querendo atender só aos seus interesses. Se for para isso, não quero nem ser deputado, tanto faz essa m*.”
Intimidação
Antes do acirramento das disputas internas no PSL, Daniel Silveira já havia protoganizado outro lance polêmico: uma visita ao tradicional Colégio Pedro II, que muitos viram como intimidatória. No dia 11, ele e o também deputado Rodrigo Amorim, da mesma sigla, identificaram-se como policiais e “inspecionaram” a instituição de ensino, sem autorização ou justificativa.
A diretoria do Colégio Pedro II fez um registro de ocorrência na PF (Polícia Federal) contra ambos, por crime de abuso de autoridade. Além do registro, a Reitoria também acionou a Procuradoria Regional Federal da 2ª Região para solicitar uma medida restritiva contra a dupla.
Em nota divulgada pelo colégio , o reitor Oscar Halac explicou que, diante das condutas dos deputados, “os fatos foram devidamente levados ao conhecimento da Polícia Federal”, onde a Diretora do Campus de São Cristóvão I prestou depoimento sobre o fato, para que o “eventual iícito” seja apurado. Halac afirma que ambos agiram “como se estivesse a serviço da polícia militar” e, por isso, feriam a Lei de Abuso de Autoridade.
Segundo a assessoria da instituição, informou que providenciou a solicitação de uma representação nos conselhos de ética da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), e remeteu à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados o mesmo pleito, em desfavor dos deputados. Além disso, a assessoria informa que outras medidas já estão sendo tomadas:
“Também a Procuradoria Regional Federal da 2ª Região foi acionada para que seja levado ao conhecimento do Poder Judiciário (Tribunal Regional Federal – Justiça Federal/SJRJ) todo o infortúnio causado pelos deputados, e solicitada a concessão de medida restritiva, para que tal agressão não se repita”.
Em resposta à denúncia formal feita pelo Colégio Pedro II, o deputado estadual Rodrigo Amorim informou em nota que está sempre ao lado da polícia, e nunca contra ela. “Minha ida ao Pedro II apoiando o deputado Daniel Silveira tinha escopo muito claro: verificar a necessidade de investimento via emendas. Se o diretor da instituição acionou a PF, usou do cargo e cometeu abuso de autoridade contra parlamentares que tinham todo o direito de entrar na escola”, explicou.
O episódio gerou resposta imediata dos alunos do colégio e também dos deputados que realizaram a visita. Em sua conta no Twitter, Silveira comentou: “Segundo o ‘campeoníssimo’ reitor, não podemos vistoriar ‘sem avisar’. Acho que ele teme que venhamos a intervir no seu conteúdo de produção de militância esquerdista”.
Além dele, Rodrigo Amorim também se posicionou após o episódio, e disse que a inspeção feita no colégio faz parte da nova “cruzada pela educação, sem escopo ideológico, por mais que se tenha verificado nos locais visitados até agora uma forte doutrinação”.
(Marcello Campos)