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Por Redação O Sul | 16 de janeiro de 2019
A Terra Indígena dos Awá Guajá, na qual houve a desintrusão em 2014, está sendo novamente invadida. Há fazendeiros já instalados lá, árvores foram derrubadas e há rebanho pastando. A informação é da jornalista Mírian Leitão, do jornal O Globo. Ela conta que manteve contatos com uma liderança indígena no Maranhão na terra ao lado de onde esteve em 2013 fazendo uma reportagem junto com o fotógrafo Sebastião Salgado.
Os Awá Guajá são definidos pela Funai como “de recente contato”. A maioria só fala Guajá. Antonio Guajajara, da Terra Caru, falou que eles estão correndo extremo perigo. No Maranhão os remanescentes de Floresta Amazônica estão em três terras indígenas: Awá Guajá, Caru, onde vivem os Guajajara e onde tem mais duas aldeias de Awá e a TI Alto Turiaçu onde vivem os Ka’apor.
Os Guajajara, depois da desintrusão (retirada de ocupantes ilegais), formaram dois grupos de vigilantes: os Guardiões da Floresta, e as Guerreiras da Floresta, para fiscalização e conscientização da importância da preservação.
Leia parte do depoimento de Antonio Wilson Guajajara, cacique da aldeia Maçaranduba, da Terra Indígena Caru, no Maranhão:
“A gente vem acompanhando as ameaças que estão surgindo sobre a terra indígena Awá Guajá. Nós que moramos aqui perto, na verdade são três terras coladas uma a outra: a terra indígena Caru, a terra indígena Awa Guajá e a terra indígena Alto Turiaçu dos indígenas Ka’apor.
A gente está vendo a terra dos Awa a um instante ela sendo invadida pelos não-indígenas, pelos invasores, os antigos invasores que moravam nela. Quando teve a desintrusão, quando eles saíram, e agora essa nova possibilidade de o governo liberar as terras indígenas. Isso faz com que eles achem que está tudo já liberado e aí eles estão se manifestando para querer invadir.
Só que nós aqui, dessa região onde eu moro, a gente trabalha da maneira organizada. Sabemos que as únicas terras em que existe mata no Maranhão são a terra Caru, Alto Turiaçú e Awa Guajá. São as únicas terras que tem matas. Foi formado desde 2014 o grupo de Guardiões da Floresta, no qual a gente faz a vigilância. A gente faz a vigilância para que essas pessoas não possam entrar. Aqui na terra Caru a gente trabalha para isso: defender a floresta de uma maneira pacífica, sem violência, educada.
Já fizemos várias capacitações e sabemos também que o nosso dever de proteger a floresta é muito importante porque aqui na terra também tem os Awá que nunca tiveram contato com ninguém. Não sei se você sabe, mas aqui na Caru tem ainda esses indígenas. Eles são índios de recente contato, que são a aldeia Tiracambú e a aldeia Awá. Ficam aqui na terra Carú.
A gente está pensando em continuar fazendo esse trabalho. Vem dando certo. Hoje a terra indígena Caru, Turiaçu, a Pindaré, outra terra aqui também de Guajajara, a gente vem vendo resultado, trabalhando os guardiões juntos, mostrando para o invasor que a gente não está para entrar em conflito, que a gente está para conversar, fazendo com que eles entendam que a terra é nossa, é indígena. (…).
A gente está bastante preocupado. A nossa terra indígena Carú é de 172 mil hectares, só floresta. Se a gente não tiver parceria com os amigos, com outras pessoas, fica também difícil para gente. Sabemos que quem vai sofrer mais ainda são os próprios Awá, que não estão entendendo nada do que está acontecendo.
A terra indígena Carú está rodeada de povoados. É tipo uma ilha, tem dois rios. Existe também bastante invasão. Mas a gente está batendo firme e forte, continuando nossos trabalhos de vigilância. Mas a gente precisa de mais força também. Esse é um pouco de história aqui da Caru.
Quanto à terra Awá, a gente quer unir forças. Tanto com os Awá, que são recente contato, quer unir força com a etnia Ka’apor, e quer unir força com os outros parentes também para que a gente possa ajudar eles, os Awá, a fazer suas aldeias lá dentro da terra. Eles não fazem ainda por conta de ameaças, por conta de várias desmatamentos que estão sendo muito fortes dentro da terra Awá. A gente foi lá, passou quase um mês lá, e a gente não vê outra coisa a não ser pasto, criação de gado está muito forte. E eles estão jogando agora é veneno por cima da floresta para matar os matos e criar os capins. Fazer com que a pastagens aumente. Isso é bastante preocupante para nós.”