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Por Redação O Sul | 29 de junho de 2016
Jorge Messi contou que o filho, Lionel Messi, eleito cinco vezes o melhor jogador de futebol do mundo, sentiu pressão dentro de campo apenas uma vez na vida. Em uma partida sub-9 pelo Newell’s Old Boys contra o Rosario Central, na qual a decisão foi para os pênaltis. O pequeno “enganche” tinha nos pés a última cobrança para fazer seu time do coração ser campeão. “Ele confessou depois ter sentido o peso de decidir. Era apenas uma criança. E fez o gol”, revela o pai.
Na final da Copa América, diante do Chile, no domingo passado, deve ter sentido pela segunda vez na carreira. Tanto que, depois da partida, confessou não ter mais intenção de vestir a camisa da Argentina. Para Messi, deve ter sido muito mais difícil dizer aquilo do que para os outros jogadores da seleção.
Leonardo Faccio, um dos biógrafos de Messi, o definiu como o sujeito que “morde as palavras antes que elas saiam da sua boca”. Isso significa que o melhor jogador do mundo nos últimos 30 anos dá as piores entrevistas porque não tem a menor vontade de dizer qualquer coisa interessante.
Afirmar a aposentadoria da seleção aos 29 anos foi um sacrifício. Expressar-se livremente dessa forma, publicamente, vai contra tudo o que sempre praticou. Mais um indício do nível de depressão a que ele chegou após a perda de pênalti e a derrota para o Chile, em Nova Jersey (EUA). Na sua trajetória, são quatro vice-campeonatos pela Argentina.
Sacrifícios.
É difícil acreditar que não vai mudar de ideia, mas a “renúncia” dá contornos dramáticos a uma relação que sempre teve mais sacrifício do que amor. Após o empate na Copa América de 2011, diante da Bolívia, Messi foi massacrado pela imprensa do país e inaugurou as acusações que se repetiriam no decorrer dos anos. Ele não canta o hino. Não joga tão bem pela Argentina quanto pelo Barcelona. Não é argentino, é espanhol.
“As pessoas não têm ideia dos sacrifícios que Leo fez para jogar pela Argentina. Se soubessem, não falariam tanta bobagem”, confessou seu pai, durante a Copa de 2014.
Messi poderia ter defendido a Espanha. Foi assediado várias vezes e rejeitou a ideia. Alarmado, Julio Grondona, ex-eterno presidente da Associação de Futebol Argentino, armou um amistoso insignificante, com portões fechados, apenas para que Messi fosse convocado, jogasse e extinguisse qualquer chance de defender os europeus.
O astro internacional ainda gravita em torno dos amigos de infância de Rosário, para onde sempre volta nas férias. Sua mulher, Antonella Rocuzzo, é paixão de adolescência, de quando jogava com o primo dela, Lucas Scaglia.
Sensibilizado pelo apoio no meio de uma saraivada de críticas, ele apareceu de surpresa em uma entrevista pós-jogo depois da vitória sobre a Costa Rica na Copa América de 2011, para agradecer o carinho “de la gente”. Isso aconteceu apesar de não ter feito nenhum gol no Mundial de 2010.
A redenção deveria ter aparecido há dois anos, no Brasil, na Copa do Mundo. Messi carregou a seleção nas costas na fase de grupos. Fez quatro gols em três jogos. Mas o técnico Alejandro Sabella percebeu que atacando não chegaria ao título. Alterou o esquema e pediu para seu camisa 10 atuar ajudando na marcação, como jamais havia feito. “Ele me disse que depois de cada partida estava tão cansado que a perna pesava 100 quilos”, contou Jorge.
Messi poderia reclamar, se rebelar. Era o astro da companhia. O capitão. Aceitou a nova função e não fez mais nenhum gol no Mundial. Foi criticado após a final, perdida na prorrogação.
Milionário, adorado mundialmente e um dos maiores craques de todos os tempos, Messi foi tomado pela tristeza por causa da seleção. Por mais estranho que possa parecer a quem é tão fechado, talvez Lionel queira apenas o carinho de seu povo.