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Educação Enem: o que explica menor número de inscritos na prova em mais de uma década

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Observadores veem queda de inscritos como reflexo de desconexão dos jovens com o ensino. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Quando falava sobre o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) com seus alunos adolescentes, a professora Márcia Maia muitas vezes notava a faísca de interesse deles em prestar a prova que, hoje, é a principal porta de entrada para a educação universitária no Brasil.

Mas ela percebia que parte dos alunos de baixa renda não se sentia pertencente ao universo do ensino superior ou que não tinha repertório o bastante.

“Tinha os estudantes que até queriam prestar o Enem, mas se sentiam constrangidos por suas desigualdades, pelo seu acúmulo de deficiências que vêm desde a alfabetização nas escolas públicas. ‘Sou bom aluno, mas não li esses 20 livros, não tenho como participar desses debates'”, conta Maia, professora de português no Instituto Federal da Bahia, na região de Ilhéus.

Ela então criou um projeto de leitura para seus alunos, dedicado à redação do Enem – um dos pontos mais temidos para muitos estudantes que se preparam para o exame.

Maia usa como motivador sua própria história de vida, de estudante da zona rural baiana que passou na faculdade e ascendeu por meio da educação. “Sempre digo a eles que sou resultado de ter acreditado em estudar, algo que me situa em qualquer lugar que eu for”, conta.

Os alunos do grupo de estudos de Maia passaram a escrever uma redação por semana, que ela corrigia em detalhes, para ensinar-lhes a estrutura do texto exigida pelo Enem.

No ano passado, com a pandemia, o esforço precisou ser redobrado para manter o grupo engajado, mesmo sem as sessões presenciais.

“O volume de atenção caiu, os alunos ficaram mais dispersos”, relata Maia. “Fizemos aulões, lives de redação, mas 2020 foi um ano assustador. Tivemos uma abstenção histórica, porque o aluno sabia o quanto estava desconectado de tudo.”

Maia celebra os estudantes que persistiram, prestaram o Enem e conseguiram vagas em universidades. Mas lamenta o “abismo que aumentou em quilômetros de profundidade” entre os jovens que cursam o ensino privado e os que cursam o ensino público no Brasil.

“Para o aluno que já vivencia a exclusão, que não tem dinheiro para pagar cursinho e se vê solto nesse período (de fechamento das escolas), o que acontece?”

Queda no número de inscritos no Enem

O relato de Márcia Maia coincide com o de estudantes, professores, ativistas e especialistas em educação ouvidos pela BBC News Brasil a respeito de uma perigosa desconexão dos jovens com a escola e com o Enem — e uma aparente descrença, entre uma parcela crescente dos estudantes, no poder dos estudos como forma de ascensão social.

Um exemplo disso é o número de inscritos (3,1 milhões) no Enem 2021, índice mais baixo dos últimos 16 anos. O exame chegou a ter 8,7 milhões de inscritos em 2014.

O desalento nessa faixa etária se reflete em outros dados. Segundo relatório do Unicef (braço da ONU para a infância), em novembro do ano passado, havia cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos sem qualquer tipo de acesso à educação no Brasil.

Em maio deste ano, pesquisa do Datafolha para fundações educacionais apontou que 46% dos pais de 1,5 mil alunos dos ensinos fundamental e médio entrevistados diziam não ver motivação nos seus filhos com os estudos.

Ao mesmo tempo, a proporção de jovens nem-nem (que nem trabalham, nem estudam) na faixa etária de 15 a 19 anos atingiu seu maior patamar – 25,5% no último trimestre de 2020 – nos oito anos em que o segmento é analisado pela pesquisa Pnad Contínua, segundo levantamento da consultoria iDados cedido ao jornal Valor Econômico.

“Sem trabalhar e sem estudar, esses indivíduos não estão acumulando capital humano, o que pode levar a perdas de rendimentos significativas e persistentes que comprometem suas trajetórias laborais ao longo da vida”, diz estudo recém-lançado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre esse tema. “Para os jovens, o legado da crise sanitária pode durar décadas.”

“Muitos jovens aqui da região tiveram que parar os estudos durante a pandemia, e aumentou o número de jovens nas favelas que viraram chefes de família” porque seus pais perderam o emprego, diz a arquiteta Ester Carro, ativista social na comunidade de Jardim Colombo, zona Sul de São Paulo. As informações são do portal G1.

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