Terça-feira, 07 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de dezembro de 2019
A França enfrentou nessa quinta-feira mais um dia de greve geral contra o projeto de reforma da Previdência defendido pelo presidente Emmanuel Macron. O movimento afetou diversos serviços públicos, como trens, aviões, escolas e hospitais. Conforme o Ministério do Interior, mais de 800 mil pessoas participaram dos protestos, enquanto os sindicatos falaram em 1,5 milhão.
Em Paris, a Torre Eiffel foi bloqueada e a polícia lançou gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Ao menos 87 pessoas foram presas. As autoridades anunciaram a mobilização de 6 mil policiais para reforçar a segurança durante a passeata na capital do país, onde foram registrados alguns incidentes. A estimativa do número de participantes do ato na capital francesa não foi divulgada.
A greve fez com que quase 90% das viagens dos trens de alta velocidade fossem canceladas. Dez das 16 linhas de metrô de Paris foram fechadas, centenas de voos foram cancelados e muitas escolas não abriram as portas. Para evitar o caos nos transportes, muitos franceses decidiram caminhar de suas casas até o local de trabalho. Outros optaram por trabalhar de casa.
A paralisação de parte dos controladores aéreos obrigou a Air France a cancelar 30% dos voos domésticos e 15% dos voos europeus. A empresa informou, no entanto, que todos os voos de longa distância serão mantidos. Já a companhia britânica de baixo custo EasyJet cancelou 223 voos nacionais e internacionais de curta distância e advertiu que outras viagens podem sofrer atrasos.
Muitas escolas do País não abriram as portas. O ministério da Educação afirma que a greve atingiu 51,1% das creches e escolas de ensino elementar. No ensino primário e secundário, 42,3% dos professores cruzaram os braços.
A secretária-geral do FSU (principal sindicato dos trabalhadores do setor de ensino), Bernadette Groison, forneceu um balanço diferente: “Quase 70% dos professores do ensino básico estão em greve. Os números do ensino médio são similares. Nunca havia visto algo semelhante”.
Policiais, garis, advogados, aposentados e motoristas de transportadoras, assim como os “coletes amarelos”, o influente movimento social surgido em novembro de 2018 na França, aderiram à greve. O movimento de protesto também recebeu o apoio de 182 artistas e intelectuais, dentre eles o economista Thomas Piketty, autor de um livro “best-seller” sobre a desigualdade, assim como dos partidos de esquerda.
Proposta do governo
A indignação popular foi motivada pela reforma da Previdência preparada pelo governo de Macron, uma promessa de campanha que tem como objetivo eliminar os 42 regimes especiais que existem atualmente e que concedem privilégios a determinadas categorias profissionais.
O governo pretende estabelecer um sistema único, no qual todos os trabalhadores terão os mesmos direitos no momento de receber a aposentadoria.
Para o governo, trata-se de um sistema mais justo e mais simples, no qual “cada euro contribuído dará a todos os mesmos direitos”. Porém, os sindicatos temem que o novo sistema adie a aposentadoria, atualmente aos 62 anos e diminua o nível das pensões.
A maior parte dos países europeus já recuou a idade mínima para 65 anos, mas o projeto de Macron não altera a idade mínima legal da aposentadoria, estabelecida atualmente em 62 anos para mulheres e homens.
O projeto cria a noção de uma idade “ideal” de aposentadoria aos 64 anos, chamada de “idade pivô” pelos franceses, que viria acompanhada de um incentivo financeiro. Quem continuar trabalhando até 64 anos, receberia um bônus na pensão; aqueles que decidirem partir aos 62 anos, receberiam uma pensão menor.
No caso dos ferroviários da SNCF (companhia ferroviária nacional), por exemplo, o acordo da categoria permite solicitar o benefício da aposentadoria aos 50 anos e 8 meses.
Horas antes do início das manifestações, o jornal “Les Echos” publicou uma lista de pontos suscetíveis de flexibilização no projeto. O governo também estaria disposto a adiar a aplicação de várias etapas da reforma.