Terça-feira, 25 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de agosto de 2020
Pela segunda vez em sua breve carreira política, o presidente americano Donald Trump concorrerá a uma eleição. Também pela segunda vez, ele chega à disputa como azarão: nas pesquisas nacionais está cerca de 10 pontos percentuais atrás de seu rival, o democrata Joe Biden – situação parecida com a que viveu há quatro anos, quando também surgia atrás de Hillary Clinton nas sondagens eleitorais.
Na semana em que será confirmado o candidato republicano nas eleições presidenciais de novembro de 2020 pela convenção do partido, ele tenta usar o evento para reverter a atual tendência desfavorável na corrida.
Sem a presença de republicanos históricos, a convenção foi recheada de familiares de Trump e de apoiadores de primeira hora, e se converteu em um ato de desagravo ao presidente, que hoje controla mais de 90% da agremiação.
De acordo com Michael Johns, um dos líderes do movimento Tea Party, que apoia o presidente, a campanha de Trump aposta que os quatro dias de convenção servirão para dar força à candidatura a ponto de melhorarem sua pontuação nas próximas pesquisas.
O desafio de Trump agora, no entanto, é maior do que o enfrentado em 2016. Se há quatro anos ele era visto como um outsider na política, um empresário e apresentador de reality show que vendia um projeto de retomada dos valores conservadores americanos – com foco em religião, família e trabalho –, agora ele é o presidente e apenas 38% dos americanos aprovam sua gestão, segundo pesquisa do Pew Research divulgada essa semana.
A taxa de aprovação está abaixo da média histórica de popularidade ostentada por presidentes que obtiveram a reeleição.
Se Trump disputar a narrativa sobre o sucesso do combate ao coronavírus pode ser uma batalha menos promissora, os republicanos apostam em uma outra crise para tocar os eleitores: o aumento na violência urbana.
Um levantamento feito pelo periódico Wall Street Journal esse mês mostrou que a taxa de homicídio nas 50 maiores cidades americanas cresceu 24% em relação ao ano passado.
A subida coincide com o início dos protestos contra a violência policial e o racismo, detonados em junho, poucos dias após a morte de George Floyd, asfixiado por um policial branco.
As imagens da morte de Floyd provocaram comoção nacional, com milhares de manifestantes nas ruas de mais de cem cidades americanas, em um movimento que até hoje não refluiu por completo e que segue alimentado por novos casos de violência policial. Essa semana, Kenosha, no Wisconsin, mergulhou em protestos violentos após um policial atirar sete vezes em Jacob Blake, pelas costas. Blake está no hospital em estado grave e pode ficar paraplégico.
E embora cerca de 70% dos americanos acreditem que a morte de Floyd foi injusta e aponta para problemas estruturais da sociedade americana, apenas 22% deles apoiam protestos violentos, segundo o instituto Ipsos. E cerca de 20% concordam com a proposta de parte dos manifestantes de cortar verbas da polícia.
Desde o primeiro momento, Trump afirmou que reagiria contra protestos violentos e chegou a usar o Exército para reprimir manifestantes.
Por fim, a convenção tem mostrado Trump como alguém que recolocou os interesses americanos em primeiro lugar na agenda global ao antagonizar frontalmente com a China, aniquilar autoridades militares iranianas, e ameaçar o regime venezuelano com ações militares.
Especialmente bem sucedidas foram as guerras comerciais contra a China, a culpabilização do país pela pandemia, as sanções contra os chineses pelas medidas anti-democráticas em Hong Kong e o ato de mandar que Pequim fechasse um consulado no Texas, há pouco mais de um mês. Trump parece ter descoberto um sentimento anti-chinês nacional, latente até então.
De acordo com levantamento do Pew Research no mês passado, 3 em cada 4 americanos apoiam medidas duras contra a China e tem visão crítica sobre o país. É um dos poucos assuntos em que republicanos e democratas concordam atualmente, embora os primeiros sejam mais críticos que os segundos.
De acordo com Michael Cornfield, especialista em estratégia de comunicação política da George Washington University, Trump vai mobilizar na sociedade americana sentimentos do período da guerra fria para, no século 21, se colocar como “a última linha de defesa da civilização ocidental, contra a China e os ‘democratas radicais, socialistas e violentos’ que controlam Biden”. As informações são da BBC News.