Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de novembro de 2025
A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não causou a comoção popular que seus aliados esperavam, e o sentimento em boa parte do campo bolsonarista é de frustração. Influenciadores e parlamentares de direita já admitem publicamente a baixa mobilização da base e atribuem o desânimo a diferentes fatores, como o cansaço de apoiadores e o fato de a prisão ter ocorrido em “doses homeopáticas”.
A falta de mobilização popular foi criticada nas redes sociais por Martin De Luca, advogado da Trump Media, empresa ligada ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em publicação no X (antigo Twitter), ele disse que recebe mensagens de seguidores dizendo que os brasileiros não protestam por medo.
“A verdade incômoda é que nenhum país estrangeiro pode salvar uma nação cujos próprios cidadãos têm medo demais de defendê-la.” A publicação foi recebida como um alerta no bolsonarismo e foi amplamente compartilhada entre apoiadores.
A baixa mobilização é perceptível. A vigília organizada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em frente ao condomínio do pai, em Brasília, reuniu apenas algumas dezenas de apoiadores, mesmo tendo ocorrido horas depois da prisão. Na Superintendência Regional da Polícia Federal (PF), onde Bolsonaro está numa cela especial, o cenário de poucos manifestantes se repetiu. No domingo, a concentração teve cerca de 40 pessoas.
A reação tímida é motivo de preocupação entre aliados de Bolsonaro, sobretudo porque o campo aposta na mobilização popular para pressionar o Congresso a aprovar a anistia.
O blogueiro bolsonarista Paulo Figueiredo, que é réu em ação no Supremo Tribunal Federal (STF) por obstrução no processo da trama golpista, fez um apelo aos apoiadores em transmissão ao vivo na terça-feira, 25: “Os americanos cobram e perguntam: onde está a pressão popular do brasileiro? Então, não fiquem esperando que tudo caia dos céus daqui (Estados Unidos) sem que ninguém precise fazer nada no Brasil”, afirmou, deixando claro que o alerta serve tanto para o cidadão comum quanto para os parlamentares. “Vocês não podem esmorecer, congressistas e a população. Se vocês se entregarem, será pior.”
O blogueiro defendeu que o único caminho possível para o Brasil é a anistia: “A gente vai continuar trabalhando, continuar dando suporte. Essa narrativa de que o governo Trump e o governo Lula estão numa química maravilhosa vai ser desfeita mais cedo ou mais tarde. Mas, no final das contas, quem tem a capacidade de ação é, sim, o povo brasileiro, cobrando para que o Congresso paute a anistia.”
Bolsonaristas ouvidos pelo Estadão apontam diferentes motivos para a falta de mobilização. Um deles é o desgaste da própria base.
“O que a gente está esperando? Mobilização popular. Agora, mobilização popular espontânea, depois de dezenas e centenas de tentativas que não deram em nada, (não vai acontecer), o povo se cansou. É por isso que só tem meia dúzia de senhoras rezando pelo Bolsonaro”, diz o vereador paulistano Adrilles Jorge (União Brasil).
Para Adrilles, esperar que a população se mobilize sozinha é “praticamente impossível”. “Quem tem que conclamar as pessoas às ruas novamente, em uníssono, são os governadores de direita, dizendo que há um processo de consolidação da ditadura no Brasil”, afirma. Para ele, esse movimento deveria ser liderado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Já a deputada federal Rosana Valle (PL-SP) pensa diferente: na visão dela, o que existe hoje não é “apatia, mas, sim, cautela” do campo. “E essa preocupação representa responsabilidade diante de um cenário em que qualquer manifestação pode ser distorcida, criminalizada ou utilizada, intencionalmente, para prejudicar ainda mais o ex-presidente Jair Bolsonaro e demais presos políticos.”
Na opinião da deputada, que é uma das aliadas mais próximas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o tom mais discreto de alguns atos nas ruas se deve a um “ambiente hostil” ao direito de se expressar.
“As pessoas estão com receio”, diz Rosana, pontuando que a mobilização hoje acontece nas redes sociais, conversas de família e nos bastidores. “Este momento exige estratégia, não impulsividade. A história mostra que grandes movimentos não começam com multidões – têm início com consciência.”
O deputado federal Pastor Marco Feliciano (PL-SP) faz uma leitura parecida: “A prisão do 8 de janeiro foi um recado: quem se insurgir irá para cadeia. O povo brasileiro está assustado. Pasmem, parlamentares estão assustados”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.