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Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2019
O presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) disse que seu filho, o senador eleito Flávio Bolsonaro, não pode ser culpado pelas homenagens que fez a acusados de comandar milícias no Rio de Janeiro. Em entrevista ao jornal americano Washington Post, o presidente disse que Flávio, então deputado na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), fez “mais de 300 diferentes condecorações e títulos de honra” a profissionais de segurança pública, e que não poderia ser responsabilizado por duas em que poderia haver irregularidades.
As homenagens, que ocorreram em 2003 e 2004, agraciaram os policiais militares Adriano Magalhães da Nóbrega e Ronald Paulo Alves Pereira. Nóbrega foi agraciado com a Medalha Tiradentes, considerada a maior honraria do Estado, e Pereira recebeu uma menção honrosa. Os dois tiveram mandados de prisão expedido na Operação Intocáveis, desencadeada pela Polícia Civil e pelo MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), acusados de participar de uma das principais milícias do Estado, em Rio das Pedras, comunidade pobre na zona oeste.
“Naturalmente, a pessoa que concedeu a condecoração não pode ser culpada”, disse Bolsonaro. “Se alguma evidência se tornar disponível contra meu filho, ele será punido como qualquer outra pessoa e cumprirá sua pena.”
O presidente não falou sobre o fato de Flávio ter empregado, em seu gabinete, a mãe e a mulher de Nóbrega até novembro do ano passado. Elas teriam sido indicadas por seu ex-assessor e motorista, Fabrício Queiroz, que teve movimentações financeiras atípicas identificadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Segundo o jornal Estado de S. Paulo, entre os homenageados pelo filho do presidente, há outros quatro policiais que se envolveram em irregularidades. Em 2017 e 2018, o então deputado estadual pediu à Mesa Diretora da assembleia que fossem concedidas moções parabenizando os PMs Leonardo Ferreira de Andrade e Bruno Duarte Pinho. Os dois tiveram mandados de prisão expedidos em agosto de 2018 na Operação Quarto Elemento, do MPRJ. Eles estão entre 48 acusados de corrupção na Polícia Civil fluminense, suspeitos de exigir dinheiro para liberar infratores de prisões em flagrante, além de outras irregularidades administrativas. Em 2007, Flávio já havia pedido homenagem ao PM Carlos Mezenes de Lima, também denunciado.
Em 2017, o filho do presidente também pediu que a Alerj concedesse a Medalha Tiradentes ao tenente-coronel Marcelo Moreira Malheiros, então responsável pelo 15.º batalhão da PM. Cerca de três meses depois, Malheiros foi exonerado do cargo sob suspeita de ser conivente com o jogo do bicho. A corregedoria da PM havia encontrado 18 pontos, na área de cobertura do batalhão, em que se praticava a contravenção.
Na entrevista ao Washington Post, Bolsonaro também falou sobre a reforma da Previdência e a possibilidade de não se reeleger. Confira trechos:
1. Eu tenho que te perguntar sobre o escândalo envolvendo seu filho, o recém eleito senador Flávio Bolsonaro. É relatado que seu filho contratou várias pessoas com laços estreitos com membros de gangues.
Isso não é um assunto do governo ou da administração federal – ou da sua conta -, mas vou expressar minha opinião sobre o assunto. Em grande medida, seu nome de família, Bolsonaro, é a razão pela qual ele (Flávio) tem tanta visibilidade. O que foi dito sobre ele até agora é o resultado de acusações políticas de pessoas que querem criticar minha administração.
Meu filho sempre trabalhou com o serviço militar do Estado do Rio de Janeiro e concedeu mais de 300 diferentes condecorações e títulos de honra aos membros das Forças Armadas que lutaram em combate. Dois deles estão sendo acusados de irregularidades. Naturalmente, a pessoa que concedeu a condecoração não pode ser culpada. Se alguma evidência se tornar disponível contra meu filho, ele será punido como qualquer outra pessoa e cumprirá sua pena.
2. A reforma previdenciária é declaradamente a questão econômica mais importante para o Brasil hoje. Pode ter consequências políticas difíceis se você aumentar a idade de aposentadoria e reduzir os benefícios. Você apoia isso?
A reforma proposta é impopular… Se não passar, isso significará um colapso econômico.
3. Você acha que pode fazer com que a reforma previdenciária seja aprovada pelo Congresso?
Não temos alternativa.
4. Você disse que você pode servir apenas um mandato como presidente por causa das coisas impopulares que você precisa fazer.
Isso é uma possibilidade, sim.
5. Então você decidiu que não vai concorrer?
A eleição ainda não começou.
6. Você acabou de ser empossado.
Eu acho que você tem de governar pelo exemplo.
7. Ao tratar de temas muito importantes mas também muito impopulares?
Essas reformas devem ocorrer no primeiro ano. Porque, depois disso, só com dificuldade é que se consegue avançar.