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Por Redação O Sul | 28 de outubro de 2019
O que é o peronismo? Esta é uma pergunta feita muitas vezes dentro e mesmo fora da Argentina. Frases de pensadores e sociólogos e feitos históricos ajudam a entender melhor esse fenômeno. Veja abaixo. As informações são da agência de notícias AFP.
Como surgiu o peronismo?
O peronismo nasceu em 1945, depois da chamada Década Infame do Partido Conservador. Foi uma reação à fraude eleitoral, aos abusos patronais e aos acordos comerciais com o Reino Unido que condenavam o país a ser fornecedor de matérias-primas.
Foi formado por milhares de trabalhadores que haviam saído de suas províncias rumo a Buenos Aires. Eram mestiços que se uniram a filhos e netos de imigrantes europeus. O peronismo nasceu com uma massiva mobilização de trabalhadores no dia 17 de outubro daquele ano.
“É um grande zoológico”, criticou o deputado radical social-democrata Ernesto Samartino. Junto ao peronismo nascia também o antiperonismo.
Por que a central de trabalhadores argentina é peronista?
Na época, os manifestantes pediam a liberação do então coronel Juan Perón, secretário de Trabalho na ditadura do general Edelmiro Farrell. Este o prendeu com medo de seu crescente poder por ter impulsionado leis e estatutos trabalhistas, indenizações por demissão e férias, entre outros direitos.
Os trabalhadores idolatravam Perón e o levaram três vezes à presidência da Argentina. Por isso o peronismo conseguiu arrebatar o controle dos sindicatos dos socialistas, anarquistas e comunistas. Desde então, a principal central de trabalhadores do país – a CGT (Confederação Geral do Trabalho) – responde ao peronismo.
“Passamos a concordar com o capital e o trabalho, ambos protegidos pela ação diretiva estadual”, afirmou Perón em um discurso histórico.
O peronismo é de esquerda ou de direita?
É um movimento nacional e popular de várias classes sociais e engloba diferentes ideologias. O ideal peronista defende a industrialização, o controle das exportações, o Estado forte, a saúde e a educação públicas, os subsídios sociais, a neutralidade internacional e a integração política e comercial sul-americana.
Nas décadas de 1960 e 1970 surgiram expressões extremas desta corrente: a guerrilha dos Montoneros e a organização paramilitar Aliança Anticomunista Argentina (Triplo A).
“A primeira pergunta que faço aos estrangeiros é se em seus países os fenômenos políticos são simples. A rebelião catalã é de esquerda ou de direita? E os coletes amarelos na França?”, questiona o antropólogo Alejandro Grimson.
Questionado sobre como explicaria o peronismo a um finlandês, por exemplo, o artista plástico Daniel Santoro afirma: “Há algo indefinível, mas que alimenta o desejo da felicidade”. A corrente também inclui personalidades históricas como o papa Francisco, porque é a doutrina social da Igreja de João XXIII, e o ex-jogador de futebol Diego Maradona, considerado rebelde e transgressor.
O peronismo tem em seu centro um ex-presidente neoliberal como Carlos Menem e uma centro-esquerdista como Cristina Kirchner. Além disso, é um caso atípico no Ocidente por ter contado com o apoio de duas presidentes, Isabel Perón e Cristina Kirchner, além da líder Evita Perón.
Agora é o momento de Alberto Fernández, um político de centro-esquerda que defende, assim como Cristina Kirchner, políticas de incentivo ao consumo, salários altos, industrialismo e direitos humanos.
A Argentina segue dividida?
Durante sua campanha eleitoral, Macri reiterou a acusação histórica ao peronismo de ser populista. Fernández, por outro lado, garante que o movimento tira a Argentina das crises que cada governo conservador provoca.
Perón incentivava os empresários a ceder poder econômico para construir uma sociedade de bem-estar. Seus modelos eram a França e a Suécia do pós-guerra. Contudo, isso levou a um antiperonismo feroz. O maior escritor argentino de todos os tempos, Jorge Luis Borges, chegou a dizer que “os peronistas não são bons ou maus, são incorrigíveis”.
O antagonismo está vivo, mas também é possível vê-lo com humor. Um jornalista espanhol perguntou uma vez a Perón como era o arco político argentino. “Olhe, a Argentina tem 30% de radicais (social-democratas), 30% de conservadores e um outro tanto de socialistas”, disse. “Mas onde estão os peronistas”, questionou o jornalista. “Todos somos peronistas”, respondeu Perón.