Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 11 de julho de 2020
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a Agência Nacional de Petróleo (ANP) investigam a suspeita de contaminação de gasolina de aviação (AVGAS) distribuída no Brasil que pode ter causado danos e corrosões em tanques de combustível, bombas, mangueiras e injetores, além de vazamentos em aeronaves de pequeno porte.
Atualmente, cerca de 12 mil aviões com motor a pistão usam a AVGAS – popularmente conhecida como “gasolina azul” – para voos de táxi-aéreo, particulares ou de instrução no país, segundo a Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (AOPA).
As causas da suposta adulteração, origem da gasolina adulterada e qual substância pode ter contaminado o combustível ainda não foram identificadas. A GloboNews apurou que fiscais da ANP estiveram no Aeroporto Campo de Marte, na Zona Norte da cidade de São Paulo, na quinta-feira (9) e coletaram amostras para testes físico-químicos em laboratório.
Os primeiros relatos sobre a degradação de componentes do sistema de armazenamento e distribuição da gasolina de aviação foram feitos no começo desta semana por pilotos de diversos estados brasileiros, como Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás. Eles citam corrosões agressivas em tanques de aeronaves, juntas, mangueiras, seletoras, bicos injetores, drenos e em outras partes e componentes.
Em um vídeo obtido pela reportagem, um piloto de Goiânia (GO) mostrou o vazamento de gasolina por várias partes da aeronave, com manchas na asa e na pista, e também alertou sobre o risco de ficar perto do avião. “Tomem cuidado com esse combustível, isso mata”, afirma. O mesmo foi registrado por outros aviadores, em vídeos e fotos. Em um áudio compartilhado em uma rede social e em grupos de aviadores, um dos pilotos relata que foi informado por uma oficina mecânica de que 40 aviões estavam com o mesmo problema.
Ao tomar conhecimento das informações na terça-feira (7), a Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, que representa 15 mil pilotos e donos de 12 mil aeronaves no Brasil, fez contato com algumas oficinas mecânicas, e confirmou as ocorrências. No mesmo dia, a entidade oficiou a Anac sobre o problema e pediu providências à agência. O presidente da AOPA, Humberto Branco, ressaltou que – mesmo sem registro de acidentes relacionados à suposta adulteração, existe um “risco muito severo e desconhecido, e que a consequência na segurança da aviação pode ser muito grave”.
Recomendações
A ANAC publicou um comunicado, chamado de Boletim Especial de Aeronavegabilidade (BEA), para informar a todos os pilotos e proprietários de aeronaves que operem com gasolina de aviação sobre os riscos associados ao uso de “combustível contaminado ou adulterado”. No documento, a ANAC dá recomendações e diz que até a emissão do boletim não possuía informações fáticas que possam confirmar a existência de tal contaminação, tampouco, se confirmada, que tenha agido como fator contribuinte em alguma ocorrência recente”.
Ainda de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil, a ANP avalia a necessidade de medidas mais rigorosas, que “dependerão da constatação de que há, de fato, uma situação de contaminação do combustível, o tipo, a origem e o período da suposta contaminação, bem como, se seria esta a causa da degradação de componentes”.
Gasolina importada
Atualmente, 100% da gasolina de aviação distribuída em território nacional é importada. Em 2018, a Petrobras interrompeu a produção de gasolina de aviação para obras na planta de Cubatão, na Baixada Santista, que segundo a empresa sofreram atraso por causa da pandemia da Covid-19. A produção deverá ser reiniciada em outubro de 2020. Desde então, a Petrobras compra o combustível de produtores no exterior.
Rigor nas inspeções pré-voo
A AOPA Brasil informou que aguarda a investigação mais detalhada das autoridades competentes para recomendar a suspensão de voos, mas já orientou todos seus associados que aumentem muito seu rigor nas inspeções pré-voo, principalmente na verificação para detalhes em mangueiras, conectores, juntas e seletoras em busca de indícios de vazamento de combustível.
A AOPA pede que à Anac que todos os testes realizados pela Petrobras e distribuidores no combustível importado nos últimos 120 dias sejam divulgados, que novos testes em diversos pontos da cadeia de distribuição, revelando assim que possível seus resultados e que forneça instruções a aviadores, distribuidores, revendedores, operadores e aviadores relativamente a verificações que possam ser conduzidas antes das operações como pronta forma de mitigação de riscos.