Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Porto Alegre
Porto Alegre, BR
19°
Mostly Cloudy

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Variedades A cidade da Espanha que usa técnica de 3 mil anos para baixar temperaturas no calor

Compartilhe esta notícia:

Em 2019, Sevilha foi a primeira cidade da Espanha a declarar estado de emergência climática. (Foto: Reprodução)

Imagine precisar suportar temperaturas acima de 40°C por 21 dias seguidos. Foi o que viveram este ano os moradores de Sevilha, na Espanha. E, frente ao impacto das mudanças climáticas, a cidade não teve alternativa senão inovar.

O exemplo mais recente desse processo de transformação é o chamado projeto Cartuja Qanat. Esta iniciativa acaba de ser inaugurada em uma zona de Sevilha chamada ilha de Cartuja, onde os espaços públicos foram climatizados com técnicas que já eram usadas pelos persas 3 mil anos atrás.

As soluções de Cartuja Qanat já começam a ser reproduzidas em outros locais da cidade. E o projeto ainda mostra, segundo seus responsáveis, o caminho a seguir para outras cidades do mundo pressionadas pelos impactos contundentes das mudanças climáticas.

Calor sem precedentes

“O clima de Sevilha sempre foi difícil, mas está ficando cada vez mais complicado com as mudanças climáticas”, segundo Lucas Perea, principal responsável pelo projeto e chefe do Departamento de Cooperação e Fundos da Emasesa, a empresa pública de água de Sevilha.

O projeto Cartuja Qanat tem sete sócios, que incluem a Emasesa, a prefeitura da cidade, a Universidade de Sevilha e uma iniciativa da União Europeia chamada Ações Urbanas Inovadoras (UIA, na sigla em inglês). O custo total do projeto é de 5 milhões de euros (cerca de R$ 25,8 milhões), 80% dos quais cobertos pela UIA.

É cada vez mais urgente procurar adaptar-se às mudanças climáticas. Um relatório da Organização Meteorológica Mundial publicado em 2 de novembro destacou que, nos últimos 30 anos, as temperaturas na Europa aumentaram mais do que o dobro do aumento médio global.

“Em nenhum outro continente as temperaturas subiram de forma tão significativa”, afirma o relatório.

Perea destaca que Sevilha enfrentou ondas de calor excepcionais. “Este ano tivemos três ondas de calor no verão, em junho, julho e setembro, com dois problemas”, segundo ele. “Um é que as ondas de calor surgem cada vez mais cedo. E o outro é que a de julho durou 21 dias.”

“Em Sevilha, sempre fez mais de 40 graus no verão, podendo ter um ou dois dias de 45 graus. Mas ter 21 dias seguidos com temperaturas acima de 40 graus já é uma exceção”, explica Perea.

Recuperar a vida nas ruas

O calor extremo tornou as ruas de Sevilha “um território hostil”, segundo o professor José Sánchez Ramos, do Departamento de Engenharia Energética da Universidade de Sevilha.

Sánchez Ramos integra a Termotecnia, o grupo de pesquisadores da Universidade de Sevilha, dirigido pelo engenheiro Servando Álvarez, que elaborou as soluções tecnológicas do projeto.

Durante as ondas de calor, “é impossível suportar o ambiente externo, exceto pelo mínimo necessário para ir de um lugar para outro. Eu não sugeriria que você levasse crianças a uma quadra esportiva ou para uma praça”, segundo ele.

“As pessoas saem à noite. Nos meses quentes, é como se Sevilha durante o dia fosse uma zona desértica”, afirma Sánchez Ramos.

O engenheiro acrescenta que Cartuja Qanat tem como objetivo principal “recuperar a vida nas ruas”. E, para Lucas Perea, o projeto “procura criar espaços de conforto nos quais as pessoas possam desenvolver atividades com custo energético praticamente inexistente”.

Quais são as técnicas milenares?

O projeto adapta tecnologias usadas há milhares de anos, não só pelos persas, mas também por vários países árabes.

“Se nos aprofundarmos, todas as soluções apresentadas já foram trabalhadas no passado, em nível ancestral”, afirma Sánchez Ramos.

Uma dessas técnicas é a dos chamados “qanats”, que são grandes canais ou aquedutos subterrâneos que transportam água ao longo de centenas de quilômetros até as cidades. Em contato com o terreno frio, a água permanece fresca e traz ainda outra grande vantagem.

Ao longo do qanat, são abertos poços para retirar água e, por eles, ingressa o ar. “O ar percorre os qanats e, por estar em um ambiente onde existe água fria e o terreno é frio, ele se resfria. Quando o ar volta a sair, ele está mais fresco”, explica Sánchez Ramos.

Além dos qanats, outra técnica milenar usada no projeto é a dos “captadores de vento”, que são usados até hoje.

A cidade de Yazd, no Irã, é famosa pelos seus captadores de ar, também conhecidos como torres de vento. Em 2017, ela foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

As torres têm aberturas que permitem a entrada de ar para ventilar as construções. O ar mais fresco desce até a parte inferior, por ser mais denso, e expulsa o ar mais quente por outra abertura.

Em muitos casos, o ar seco e quente que entra pelas torres passa por qanats subterrâneos ou por outras superfícies com água, voltando a sair, mais úmido e frio, por outra abertura.

Decisão participativa

O projeto não procura apenas usar tecnologias de forma inovadora. Existe também um componente de inovação social.

Quatro dos sócios de Cartuja Qanat, incluindo a Emasesa e a Universidade de Sevilha, comprometeram-se a manter os espaços por cinco anos. Mas esse grupo pode ser ampliado “por qualquer pessoa física ou jurídica que queira incorporar-se ao projeto para opinar e participar da gestão conjunta do espaço”, explica Perea.

Uma associação de moradores, por exemplo, pode simplesmente solicitar o uso do espaço ou ainda unir-se ao projeto e participar das decisões futuras sobre o que fazer nele.

A ideia, segundo o representante da Emasesa, é que os espaços sejam administrados em gestão participativa.

Soluções baseadas na natureza

José Sánchez Ramos prevê que a adaptação às mudanças climáticas tornará ainda mais fundamental o papel dos engenheiros.

“Nós levamos os alunos de mestrado ao espaço de Cartuja Qanat para incutir no seu DNA que existem muitas soluções além das convencionais”, afirma ele.

“Existem soluções baseadas na natureza que já foram inventadas e precisamos reinterpretar e adaptar ao ano em que vivemos, de forma rentável e eficiente. Acreditamos que o papel do engenheiro precisa ser 100% de protagonista.”

Sánchez Ramos e seus colegas dedicaram três anos de experimentos para testar os sistemas de resfriamento antes da sua construção. Eles publicaram diversos artigos científicos.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Variedades

Instagram agora avisa usuários se suas contas não são recomendadas na plataforma
Exercícios na prevenção e tratamento de câncer: estudos mostram que o impacto é surpreendente
https://www.osul.com.br/a-cidade-da-espanha-que-usa-tecnica-de-3-mil-anos-para-baixar-temperaturas-no-calor/ A cidade da Espanha que usa técnica de 3 mil anos para baixar temperaturas no calor 2022-12-09
Deixe seu comentário
Pode te interessar