Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2020
O escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil divulgou uma nota na qual afirma que a morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, “evidencia as diversas dimensões do racismo e as desigualdades encontradas na estrutura social brasileira”.
João Alberto Freitas, um homem negro, foi espancado e morto por dois homens brancos em uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre (RS), na noite do dia 19. Um dos homens era segurança do local e o outro, um policial militar temporário. Perícia apontou como asfixia como provável causa da morte. Beto, como era conhecido, foi enterrado neste sábado (21) e deixou quatro filhos.
“Milhões de negras e negros continuam a ser vítimas de racismo, discriminação racial e intolerância, incluindo as suas formas mais cruéis e violentas. Dados oficiais apontam que a cada 100 homicídios no país, 75 são de pessoas negras. O debate sobre a eliminação do racismo e da discriminação racial é, portanto, urgente e necessário, envolvendo todas e todos os agentes da sociedade, inclusive o setor privado”, ressaltou a ONU. O maior risco de morte é confirmado pelo Atlas da Violência de 2020, publicado em agosto deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que indica que de cada quatro pessoas mortas no país, três são negras.
Conforme a organização, “a proibição da discriminação racial está consagrada em todos os principais instrumentos internacionais de direitos humanos e também na legislação brasileira”. “A ONU Brasil insta as autoridades brasileiras a garantirem a plena e célere investigação do caso e clama por punição adequada dos responsáveis, por reparação integral a familiares da vítima e pela adoção de medidas que previnam que situações semelhantes se repitam”, pontuou.
Mourão
O vice-presidente Hamilton Mourão classificou como “lamentável” a morte de João Alberto Silveira Freitas, que foi brutalmente espancado até a morte por dois seguranças brancos, porém disse não ver racismo no caso, porque, de acordo com ele, não há racismo no Brasil.
Inicialmente, Mourão afirmou que a equipe de segurança do local estava “totalmente despreparada”: “Lamentável. A princípio, a segurança (estava) totalmente despreparada para a atividade que tem que fazer”, disse o vice-presidente, ao chegar no Palácio do Planalto no início da tarde da sexta-feira (20).
Questionado se via racismo no caso, respondeu que isso é algo que tentam “importar” para o Brasil: “Não. Para mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil, não existe aqui.”
Em seguida, reforçou que não vê racismo no Brasil e fez uma comparação com os Estados Unidos.
“Eu digo para você com toda tranquilidade: não tem racismo. Eu digo isso para vocês porque eu morei nos Estados Unidos. Racismo tem lá. Eu morei dois anos nos Estados Unidos. Na minha escola, que eu morei lá, o pessoal de cor, ele andava separado. Eu nunca tinha visto isso aqui no Brasil. Saí do Brasil, fui morar lá, adolescente, e fiquei impressionado. Isso no final da década de 60. Mais ainda:o pessoal de cor sentava atrás no ônibus, não sentava na frente. Então, isso é racismo. Aqui não existe isso”.