Quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2019
Na operação desta semana, que mirou endereços e negócios de Fábio Luís Lula da Silva e sua turma, a Lava-Jato revelou uma longa lista de movimentações financeiras associadas a Lulinha, seus sócios Jonas Suassuna e Kalil Bittar e empresas com negócios no governo Lula, como a Oi.
Em determinado trecho do material divulgado, os investigadores detalham as suspeitas de que duas empresas, a PPR Profissionais de Publicidade Reunidos e Rede Interamericana de Comunicação, tenham servido de atravessadoras para mascarar os repasses financeiros da Oi à Gamecorp, empresa de Lulinha e de seus amigos.
Até aí, o caso parece estar dentro da narrativa construída a partir das negociatas da Oi com o governo Lula em torno de interesses no setor de telecomunicações. Mas a coisa começa a mudar.
A Lava-Jato relaciona as duas empresas pagadoras de Lulinha e sua turma a outro escândalo de grandes proporções dos governos petistas, o petrolão.
Segundo a Lava-Jato, no mesmo período em que fez pagamentos ao filho de Lula, as duas empresas alimentavam seus próprios caixas não apenas com verbas da Oi, mas também com dinheiro — muito dinheiro! — da Petrobras.
Elas também repassaram muito dinheiro a empresas de fachada do doleiro Adir Assad, que comandava uma lavanderia bilionária de recursos para empreiteiras investigadas na Lava-Jato.
Empresas inexistentes
Uma equipe especial de fiscalização da Receita Federal descobriu que a Gamecorp — empresa que tem como sócio Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha — contratou “empresas inexistentes”, duas delas também registradas no nome do filho do ex-presidente Lula, para dissimular lucros milionários.
Conforme as declarações de renda de Lulinha de 2013 a 2015, a Gamecorp repassou 2,8 milhões de reais para a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital e a LLF Participações, que, posteriormente, distribuíram lucros isentos de tributação, no montante de 2,9 milhões de reais, ao mesmo Lulinha.
Para o Fisco, a transação foi feita para que o empresário deixasse de pagar tributos. Por isso, o órgão fez uma representação fiscal para fins penais, que pode se transformar em processo e resultar numa pena de dois a cinco anos de prisão em regime fechado. Outras quatro empresas que fizeram negócios com a Gamecorp também não existiriam de fato, incluindo firmas de engenharia.
“Além da anormalidade de contratante e contratado serem a mesma pessoa, chama a atenção os valores envolvidos, muito acima daqueles pagos às demais prestadoras de serviços”, diz a Receita em um dos relatórios de fiscalização da Gamecorp. “Os serviços foram prestados por estas duas empresas, G4 e LLF, na pessoa de Fábio Luís, o qual, desta forma, contratou a si mesmo através de duas empresas diferentes no período, de forma contínua e não cumulativa, recebendo remuneração para executar as mesmas atividades que realizava enquanto diretor presidente da Gamecorp”.
A Receita foi atrás das empresas contratadas. Ao sair a campo, descobriu que elas não existem. Em um dos relatórios de fiscalização há um capítulo especial sobre a “Inexistência Fática das Prestadoras de Serviços”, que inclui trechos da investigação e até fotos dos locais atribuídos por Lulinha à existência das empresas.
No domicílio tributário informado pela prestadora de serviços LLF Participações à Receita, existe apenas um terreno vazio, murado, com uma antena parabólica dentro do lote. “Sem vestígio da empresa”, registra a Receita. Intimada a prestar esclarecimentos, a LLF informou ao Fisco que o terreno era alugado pela própria Gamecorp. “A LLF nem mesmo possui empregados em qualquer época”, diz a Receita.
Outra diligência comprovou que a G4 também não existia no endereço declarado, em São Paulo. Mais: a G4 ficou sem nenhum empregado entre outubro de 2015 e maio de 2016. “Ao menos de 2011 até os dias atuais, a empresa G4 Entretenimento é inexistente de fato.” Intimado, Fábio Luís não se prontificou a comprovar a existência das as empresas contratadas pela Gamecorp e que posteriormente lhe repassaram recursos.
O filho do ex-presidente Lula tem problemas de sobra. Nesta semana, ele foi alvo de uma nova fase da Operação Lava-Jato, que apura se dinheiro recebido por Lulinha e seus sócios foram usados para pagar a compra do sítio de Atibaia, aquele mesmo que rendeu uma condenação a dezessete anos de cadeia a Lula. As empresas de Lulinha e de seus sócios Fernando Khalil e Jonas Suassuna, donos formais do sítio, receberam 172 milhões de reais da Oi e da Vivo entre 2004 e 2016. Nesse período, Lulinha fez lobby para que pleitos da Oi fossem acolhidos pelo governo de seu pai, o que de fato ocorreu.