Quinta-feira, 23 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2019
“É mesmo o filho do presidente quem virá?” é a pergunta frequente em Washington feita, nas últimas semanas, por estrangeiros que integram embaixadas, empresas e consultorias com relação com o Brasil. A perspectiva de ter Eduardo Bolsonaro como chefe da maior sede diplomática do Brasil no exterior agitou a capital americana, mas a demora na sua indicação fará com que a tradicional festa brasileira de 7 de setembro mude de cara.
Os eventos em comemoração ao dia da independência são usados pelos países para receber, na embaixada, contatos importantes com o governo americano, organismos internacionais, além de promover a cultura nacional. Normalmente, comida e bebida típicas do País são servidos aos convidados. Durante a gestão do embaixador Sérgio Amaral, que deixou Washington no início de junho, os eventos aconteceram à noite na residência usada pelo diplomata.
Neste ano, a recepção será mais modesta e em outro cenário: a OEA (Organização dos Estados Americanos). A ideia de fazer uma só festa, junto com a missão diplomática do Brasil na OEA e com o consulado brasileiro em Washington, partiu de Nestor Forster. O diplomata foi promovido ao primeiro escalão da carreira em junho e, portanto, assumiu a chefia da embaixada de forma interina. Seu nome era anunciado nos bastidores como o do futuro embaixador nos EUA, até que o presidente Jair Bolsonaro disse que indicaria o filho ao posto.
Forster é diplomata de carreira e tem tocado a embaixada sob elogios da família Bolsonaro e do núcleo duro do governo. Os convites para o 7 de setembro, que será comemorado no dia 6, não foram despachados com o nome do embaixador desta vez. O e-mail da solenidade informa que “o representante do Brasil para a OEA, o cônsul geral do Brasil em Washington e o Chargé d’Affaires (encarregado de negócios)” convidam para a cerimônia – que será no horário do almoço, no Salão das Américas da sede da OEA.
No lugar dos 600 convites feitos em anos anteriores, agora cerca de 500 pessoas serão chamadas. Os cerimoniais calculam que quase metade dos convidados não comparece. Sem anfitrião claro, a hora do discurso foi cortada. É possível que os embaixadores convoquem um brinde, mas nada está previsto até o momento. Diplomatas da embaixada minimizam a mudança e dizem que a cerimônia já foi assim em anos anteriores. Há países adotam o mesmo sistema de comemoração, como o Uruguai.
A possível chegada de Eduardo é tema nas embaixadas da região. Uma das preocupações de embaixadores da América Latina ouvidos pelo Estado é com o quanto Eduardo, se confirmado embaixador, irá se integrar a um bloco regional, diante da sua assumida reverência à Casa Branca de Donald Trump. Segundo um embaixador, Eduardo precisa se sentir “latino-americano” e não só “americano”.
Um outro embaixador, no entanto, pondera que qualquer avaliação feita agora é prematura e cita como exemplo o receio de países da região de que Bolsonaro, eleito, endossasse a possibilidade do uso de força para resolver o problema da Venezuela. O apoio a uma intervenção militar foi descartado pelos militares e pelo governo brasileiro desde a posse do presidente. Diplomatas estrangeiros lembram que Eduardo precisará de interlocução com o Congresso também, que inclui os democratas, de oposição a Trump, para representar o País, o que pode ser um entrave.
A maior curiosidade é com o quanto o novo embaixador vai desejar se integrar aos colegas dos países vizinhos. O foco dos embaixadores em Washington é a relação com os EUA. Mas, devido ao fato de os diplomatas enviados à capital serem do alto escalão e confiança de cada um de seus países, as relações bilaterais avançam para além da ligação com a Casa Branca.