Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 9 de setembro de 2020
A Academia de Cinema de Hollywood revelou ontem, em um anúncio histórico, novas e rigorosas normas para incentivar a diversidade entre os indicados ao Oscar de melhor filme. A partir de 2024, todos os longas-metragens que pretendem ganhar o prêmio mais cobiçado da indústria cinematográfica precisarão ter um número mínimo de profissionais de minorias étnicas pouco representadas nas equipes de divulgação, produção e administrativa, ou abordar diretamente temas que afetem estas comunidades.
As novas regras da Academia refletem um momento de mudanças tectônicas na indústria cinematográfica no que diz respeito à diversidade e representatividade. Elas foram inspiradas em normas implementadas pelo BAFTA, principal premiação do cinema britânico, que em 2016 anunciou que adotaria novos padrões em dois de seus prêmios: melhor filme britânico e roteirista, diretor ou produtor estreante. Para concorrer, os longas deveriam atender a dois de quatro padrões, muito semelhantes aos anunciados agora pelo Oscar: representação na tela, diversidade na equipe, acesso à indústria e desenvolvimento de público.
O anúncio chega após anos de críticas pela falta de diversidade entre os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, e entre os indicados e vencedores do Oscar por eles selecionados. E embora a Academia tenha tomado, nos últimos tempos, medidas para diversificar seus membros, as novas regras marcam uma aposta mais agressiva para remodelar o desempenho geral de Hollywood em relação à diversidade. “Acreditamos que estas normas de inclusão serão um catalizador para uma mudança duradoura e essencial em nossa indústria”, ressaltaram o presidente da Academia, David Rubin, e a diretora-geral da instituição, Dawn Hudson, em comunicado.
A expectativa, agora, é que as novas regras da Academia finalmente impulsionem qualquer produção do planeta que tenha pretensões internacionais – uma mudança “que veio para ficar”, avalia o produtor brasileiro Rodrigo Teixeira, por trás de filmes como “Me chame pelo seu nome” e “A vida invisível”.
“Essas temáticas já estão presentes nos festivais. A Academia ter essa atitude é muito importante. E a gente agora tem que aprender a trabalhar dentro dessas regras. É uma forma válida de educar os produtores, de maneira geral, a repensarem suas produções”, diz Teixeira, que é membro da Academia. “A gente viu nas nossas redes sociais que as pessoas apoiaram as mudanças, estão cansadas de governos agressivos, que não olham pra arte, que não atendem às minorias, que maltratam mulheres e negros.”
Quatro critérios
De acordo com as novas regras, as obras que competirem na categoria de melhor filme terão que cumprir pelo menos dois dos quatro critérios criados para melhorar as práticas de contratação e representação dentro e fora da tela. O primeiro critério exige que o protagonista do filme seja de um grupo sub-representado, ou que 30% dos papéis secundários sejam distribuídos entre minorias, ou que se abordem os problemas que rodeiam estas comunidades como tema principal da obra.
Como segundo ponto, estipula-se que as figuras principais nos bastidores façam parte de grupos historicamente desfavorecidos, entre os quais também estão incluídas as mulheres, as comunidades LGBTQ e pessoas com deficiências. As duas últimas medidas referem-se à oferta de estágios e capacitação para grupos sub-representados, e à diversidade nas equipes de comercialização e distribuição.
Desde 2015, a Academia faz um esforço para ampliar a diversidade entre seus membros. A instituição comprometeu-se a duplicar o número de mulheres e de pessoas não brancas presentes até 2020, após pedidos para que a premiação fosse boicotada. A Academia superou estas metas, contando com um total de 45% de mulheres após os novos membros admitidos este ano, e 36% de minorias.
Esta medida é fruto de um novo grupo de trabalho sobre diversidade anunciado em junho, semanas após o surgimento de protestos maciços contra o racismo que varreram os Estados Unidos em resposta à morte de George Floyd, um homem negro assassinado por um policial branco em Minneapolis.
As obras que forem concorrer ao Oscar de melhor filme em 2022 e 2023 não estarão sujeitas às novas normas, mas deverão apresentar à Academia dados confidenciais sobre diversidade.