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Mundo A vitória do partido de Evo Morales foi um revés para o Brasil e um trunfo para a Argentina

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Arce receberá uma Bolívia com graves problemas fiscais. (Foto: Reprodução/Twitter)

O resultado da eleição presidencial na Bolívia não era importante apenas para os bolivianos. Houve apostas nos mais altos níveis de governos da região, a favor e contra a vitória do Movimento ao Socialismo (MAS). Se para o Brasil foi mais um revés para a política externa do governo Bolsonaro, para a Argentina de Alberto Fernández foi um triunfo carregado de simbolismo. O venezuelano Nicolás Maduro recuperou um aliado, e seu rival, Juan Guaidó, viu sua base de sustentação enfraquecida.

Analistas afirmaram que a eleição de Luis Arce é uma sinalização política para a região, mas também alertaram para o risco de se pensar na volta a um passado recente de bonança no momento em que os países latino-americanos atravessam uma das maiores crises econômicas de sua História.

Em termos de governança regional, a Organização de Estados Americanos (OEA) foi a grande derrotada. Dias antes da eleição, o secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, recebeu em Washington o agora ex-ministro de Governo, Arturo Murillo, e ambos falaram sobre risco de fraude. Depois de ter realizado uma auditoria sobre a eleição presidencial de 2019, utilizada pela direita boliviana para justificar as pressões que levaram à renúncia do ex-presidente Evo Morales (2006-2019) e posteriormente questionada por especialistas, a imagem da OEA ficou questionada. A tensão elevou-se com uma rebelião policial e, finalmente, o ultimato das Forças Armadas para que Morales deixasse o poder.

Ontem, um dia depois da eleição de Arce, Murillo foi demitido pela presidente interina Jeanine Áñez, depois de ser acusado de corrupção na compra de equipamentos antidistúrbios. O MAS apresentou no Congresso um pedido para que ele seja impedido de deixar o país.

A volta do MAS ao poder foi um “tapa na cara” do governo Bolsonaro, que tende a ficar mais isolado na região, disse Daniella Campello, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EBAPE).

“Se Joe Biden vencer nos Estados Unidos, não sei com quem o presidente Bolsonaro vai falar. Mas não vejo uma guinada à esquerda, até por que hoje as mudanças de governo ocorrem mais porque os que saem não entregam os resultados esperados”, afirmou Campello.

Para a professora, que vem estudando os ciclos voláteis da América Latina e é coautora do livro “The Volatility Curse” (“O curso da volatilidade”), lançado pela Universidade de Cambridge, “temos atualmente governos extremamente limitados em sua capacidade de fazer coisas. Neste cenário, aumentam as probabilidades de saídas antecipadas do poder. Teremos mais instabilidade”.

Arce receberá uma Bolívia com graves problemas fiscais, que nada tem a ver com os anos de esplender econômico do governo Morales. Simbolicamente, a volta do MAS favorece os governos de Venezuela, Argentina, México, Cuba e Nicarágua, mas isso não necessariamente significa um fortalecimento que traga benefícios concretos aos países, nem que garanta a estabilidade de seus respectivos governos.

“Não vejo uma tendência regional de giro à esquerda. A vitória do MAS confirma sua forte base de apoio social e o desastre que foi o governo interino de Jeanine Áñez”, afirmou Michael Shifter, diretor do Interamerican-Dialogue.

Para ele, “os bolivianos não querem voltar ao que era a Bolívia antes de Evo Morales, querem olhar para o futuro”.

“Para Almagro, vai ser difícil recuperar a confiança perdida”, acrescentou Shifter.

Em recente palestra virtual realizada junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chefe de Estado argentino disse sentir-se sozinho na região e sentir saudades das épocas em que governavam presidentes como Hugo Chávez e Néstor Kirchner. O peronista Alberto Fernández estará agora menos sozinho e, de alguma maneira, será recompensado pela decisão de ter dado asilo político a Morales e lhe permitido fazer campanha eleitoral em território argentino. Fernández sempre sustentou que o ex-presidente boliviano foi derrubado por um golpe de Estado, se diferenciando do Brasil de Bolsonaro, que deu aval à auditoria da OEA e pleno respaldo ao governo interino, demonstrando temor pela volta do MAS ao poder.

“Ficou demonstrado que os latino-americanos não toleram mais neogolpismos. Almagro ficou deslegitimado e a Argentina deixou de sentir-se rodeada de países pouco amigos ou até mesmo hostis”, afirmou Juan Tokatlian, vice-reitor da Universidade Torcuato Di Tella.

Ele considera a eleição de Arce uma “derrota geopolítica nada irrelevante para o Brasil”. “Foi um fracasso da diplomacia hiperideologizada de Bolsonaro”, acrescentou.

Em Caracas, o resultado foi interpretado como um revés para Guaidó, que está aliado a setores conservadores e direitista da politica latino-americana. Para Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela (UCV), “não se trata de uma nova onda esquerdista, mas sim de uma clara busca da bússola política latino-americana”.

“Cuba, México, Argentina e Venezuela dirão que estamos vivendo uma nova onda de governos progressistas, mas existe uma expectativa sobre o que fará Arce. Ele será uma marionete de Morales, ou a realidade econômica o obrigará a ser pragmático e moderado”, perguntou Romero.

No próximo domingo, os chilenos irão às urnas para participar de um plebiscito sobre a proposta de aprovar uma nova Constituição e finalmente enterrar a deixada pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Tudo indica que vencerá o “Sim”, já que a maioria da sociedade chilena deseja, segundo pesquisas, uma mudança expressiva no país. Os novos ventos que sopram na América Latina poderiam influenciar as eleições presidenciais no Peru e Equador, no começo de 2021. Analistas não esperam guinadas radicais, mas sim prêmios e castigos aos atuais governos da região. Na Bolívia, muitos acreditam que a vitória do MAS é tanto mérito do partido de Morales, como consequência dos graves erros cometidos por seus opositores.

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