Quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de outubro de 2020
Após 44 anos de casa, Antonio Fagundes não tem mais contrato fixo com a Globo. Para ele, isso significa mais liberdade: “Estou livre para fazer o que eu quiser”. Mas mesmo sem elo fixo, o ator foi convidado para atuar no remake da novela Pantanal, revista pelo autor Benedito Ruy Barbosa e programada para estrear em 2021.
No seu ver, a novela tem que ser rodada com urgência ante a triste devastação do bioma causada pelos incêndios que, até agora, consumiram nada menos que 26,5% da área. “Temos que mostrar o Pantanal ao Brasil de novo.”
Aos 71 anos, Fagundes não foge de perguntas sobre política. E confessa sentir raiva e pena dos atores que assumem cargos políticos, como recentemente fez Regina Duarte e Mário Frias. “Eles não têm a menor noção de como funciona aquilo ali,” aponta. Fechado em sua casa no Rio de Janeiro desde março, diz temer mais transmitir covid-19 para alguém do que padecer ele próprio do vírus.
Ele relembra um projeto especial, de sua longa carreira, “O Mundo da Lua”, onde interpretou Rogério Silva – pai do personagem Lucas Silva e Silva, o menino que soltava sua imaginação por meio de um gravador. “São mais de 20 anos reprisando na TV Cultura, criando uma fidelidade tal que crianças crescem assistindo e depois mostram para os filhos.”
O ator não acredita ter algo como um público fiel – apesar das 300 mil pessoas que foram ao teatro para assistir Baixa Terapia, temporada interrompida pela pandemia. Reconhece, entretanto, sua necessidade de dialogar com a plateia, mantendo aceso o interesse das pessoas.
Fagundes sempre produziu suas peças para o teatro porque prefere escolher com quem atua e principalmente quem está ao seu lado na coxia: “Posso contracenar com um ator ou atriz extraordinária, que vai te dar mil prêmios, mas se o ambiente no camarim não é bom… prefiro não”. Entre os eleitos para atuar em Baixa Terapia estão: a atual mulher Alexandra Martins, a ex Mara Carvalho e o filho Bruno Fagundes.
1) Como enxerga atores liderando a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro, primeiro Regina Duarte e depois Mário Frias?
Tenho pena de atores que aceitam esse tipo de coisa. Eles não têm a menor noção de como funciona aquilo ali. Não é uma novela, é um circo com regras próprias. E dependendo do governo, as regras são mais loucas ainda. Agora, não tenho pena não de quem aceita trabalhar neste governo atual. Tenho até um pouco de raiva. A única proposta que temos visto nesses quase dois anos desta secretaria é a de acabar com a Cultura, uma proposta de desmanche, bastante coerente com a filosofia do governo que está desmanchando o meio ambiente, a saúde, a educação, e está quase desmanchando a economia também.
2) Como se sente na pandemia? Tem medo?
Sim, como todo mundo que tem um pouco de consciência, estou preocupado com isso. Mas confesso que tenho mais medo de passar o vírus e ser responsável pela morte de alguém do que temer por mim.
3) Conte sobre o convite para atuar na novela Pantanal, passada na TV Manchete em 1990?
Esse convite surgiu do Benedito Ruy Barbosa que considero meu irmão. O Benedito é um autor fabuloso, além de ser uma pessoa queridíssima que conhece o “Brasil profundo” de uma forma única. Quando ele me chamou pra fazer o Pantanal, eu fiquei muito feliz. Mas isso ainda depende também de negociações com a TV Globo, ainda não acertadas.
4) Como você encarou a interrupção do seu contrato fixo com a TV Globo?
Quando entrei na Globo, levei alguns anos pra aceitar assinar um contrato de longo prazo porque estaria preso em uma emissora só. Mas acho, hoje, o contrato por obra encenada uma coisa boa para o ator e para empresa, no sentido que você tem mais liberdade. Estive trabalhando na TV Globo nos últimos 44 anos, recebi um milhão de convites para fazer coisas e eu não pude aceitar porque estava preso contratualmente à emissora. O fim do meu contrato é consequência de uma mudança operacional da empresa e não vejo isso como um problema não.
5) Como funciona o contrato por obra encenada? Você poderia trabalhar em outras emissoras?
Agora eu estou livre para fazer o que quiser, o que também não me impede de acertar contrato para fazer Pantanal. Posso voltara trabalhar na TV Globo por obra, faria o Pantanal e depois… estaria livre de novo.