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Por Redação O Sul | 1 de setembro de 2019
Agosto costuma ser considerado um mês longo (tem 31 dias e nenhum feriado) e aziago. E se, neste ano, os investimentos de risco escaparam da maldição de maio, eles fizeram jus ao ditado “agosto, mês do desgosto”.
O mês foi marcado pela disparada do dólar, que subiu mais de 10% ante o real, fechando em R$ 4,14, mesmo com as atuações do Banco Central no mercado de câmbio para suavizar os soluços do mercado.
O segundo ativo com melhor desempenho foi o volátil bitcoin, que neste mês viu uma recuperação da queda sofrida em julho e ainda é o campeão de retorno do ano.
Aparentemente descorrelacionada do restante do mercado financeiro tradicional, a criptomoeda tem sido vista, por algumas pessoas de mercado, como potencial reserva de valor em momentos de aversão ao risco, a exemplo do dólar e do ouro.
Depois desses dois, os únicos investimentos que tiveram desempenho positivo no mês foram os de renda fixa atrelada à Selic e ao CDI, o que engloba as aplicações mais conservadoras, como Tesouro Selic (LFT), CDBs, LCIs, LCAs e até a poupança.
No restante do ranking, um “banho de sangue”, tantos foram os números vermelhos. Bolsa, fundos imobiliários e títulos de renda fixa prefixados e atrelados à inflação (públicos ou privados) apanharam para valer em agosto, ainda que o Ibovespa tenha conseguido sobreviver com uma queda até que modesta.
Os grandes perdedores do mês foram os títulos públicos de longo prazo atrelados à inflação, chamados de Tesouro IPCA+ ou NTN-B.
A guerra comercial entre Estados Unidos e China e o consequente temor de uma desaceleração da economia mundial (com possível recessão) deram o tom dos mercados de ações, juros e moedas neste mês.
Adicionalmente, a crise política e fiscal na Argentina também teve seus reflexos negativos por aqui. As prévias das eleições argentinas deram vitória com folga para o candidato kirchnerista Alberto Fernández sobre o atual presidente de viés liberal, Mauricio Macri. Como consequência, a bolsa portenha desabou e o dólar disparou em relação ao peso.
Posteriormente, o governo atual acabou anunciando uma renegociação das suas obrigações com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o que na prática funciona como um calote.
A difícil situação fiscal dos hermanos se reflete por aqui porque latino-americanos são todos colocados na mesma caixinha por grandes investidores internacionais. Além disso, a Argentina é um importante parceiro comercial do Brasil.
Esse cenário internacional negativo e de muitas incertezas levou os investidores a uma grande aversão a risco.
Com isso, os juros futuros dispararam, derrubando os preços dos títulos de renda fixa prefixados e atrelados à inflação, que se desvalorizam quando os juros sobem: Tesouro Prefixado, Tesouro IPCA+ e debêntures atreladas ao IPCA tiveram retorno negativo no mês.
Ativos de risco, como as ações e os fundos imobiliários, também sofreram nesse cenário. Os investidores correram para a segurança do dólar, que viu uma disparada.
O noticiário local andou mais fraco, com a reforma da Previdência avançando no Senado, mas sem novidades muito determinantes.
O fato mais importante por aqui foi a divulgação do crescimento do Produto Interno Bruto na última semana.
A alta de 0,4% ficou acima das estimativas do mercado, de 0,2%, e afastou os temores de recessão técnica, uma vez que o trimestre passado já havia visto contração nos números. A reação do mercado foi positiva.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já começou o mês “causando”: os investidores nem bem tiveram tempo de comemorar os cortes de juros efetuados pelos bancos centrais no Brasil e nos EUA no dia 31 de julho que Trump já largou o dedo no Twitter para anunciar uma tarifa de 10% em mais US$ 300 bilhões em produtos importados da China.
O gigante asiático reagiu com a desvalorização da sua moeda, o yuan, que chegou à proporção de um dólar para mais de sete yuans pela primeira vez em cerca de uma década, patamar onde vem sendo mantido desde então.
A intenção seria manter os produtos chineses competitivos no cenário internacional, o que poderia até neutralizar os efeitos da taxação extra nos EUA.
O presidente americano aproveitou também para dar umas porradas no Federal Reserve na sua rede social favorita, como já é de costume.
A subida de tom na guerra comercial poderia inclusive ser interpretada como uma forma de Trump pressionar o banco central americano a cortar ainda mais os juros para combater os reflexos adversos do conflito na economia.
A possibilidade de a guerra comercial desaguar em uma guerra cambial caiu mal nos mercados, devido às imensas incertezas que um cenário como esse poderia trazer. Mas o fato de a China não ter desvalorizado sua moeda tanto assim reduziu os temores em relação a isso, por ora.