Sábado, 20 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 18 de dezembro de 2019
Diplomatas viram conflito de interesse na indicação de diretor de empresa israelense. Na foto, o presidente Bolsonaro
Foto: Marcos Corrêa/PRO presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desistiu da indicação do diretor de marketing de uma empresa israelense para ocupar o cargo de embaixador em Tel Aviv. O motivo foram duras críticas à escolha, que partiram do corpo diplomático brasileiro e também de aliados do presidente.
O cerne das objeções era a possibilidade de conflito de interesses. Como diretor da IAI (Israel Aerospace Industries), o coronel da reserva Paulo Jorge de Nápolis representa uma das mais importantes empresas de defesa de Israel, que tem negócios na área de drones e vigilância no Brasil. Isso levantaria, na visão crítica, questionamentos sobre sua atuação em defesa de interesses brasileiros naquele país.
No dia 10, Bolsonaro confirmou que o nome do militar estava “no radar”, mas não quis confirmar a indicação publicamente. Naquele ponto, o presidente já havia sido alertado por aliados sobre as questões que seriam levadas invariavelmente à sabatina do coronel para aprovação de seu nome no Senado.
Com isso, o presidente visou desgastar-se ainda mais na sua segunda derrota na tentativa de emplacar um nome para posto brasileiro no exterior. Antes, ele havia indicado o filho Eduardo, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, para a embaixada em Washington — só para desistir, após intensas pressões contrárias. Dois outros fatores importantes operaram pelo veto final ao nome de Nápolis.
Primeiro, o Brasil não tem nenhum embaixador que não seja de carreira hoje ocupando cargos no exterior. Não há impedimento legal para tanto, e no passado políticos já foram titulares de embaixadas, mas a indicação somada ao perfil de Nápolis piorou o cenário.
Segundo, a FAB (Força Aérea Brasileira) relembrou o Planalto de um incidente ocorrido quando Nápolis era adido de Defesa em Tel Aviv, função que exerceu de 2013 a 2015 e que era sua principal credencial para dirigir a embaixada.
Uma secretária que servia ao escritório da Aeronáutica foi demitida e processou a embaixada. Como ela era amiga da família de Nápolis, o coronel foi arrolado como testemunha de sua defesa, o que causou mal-estar entre seus subordinados na representação.