Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 6 de maio de 2021
Poucas horas antes de embarcar num voo de volta para a Argentina, no último sábado (1º), Santiago Solans Portillo recebeu uma notícia que parecia atrapalhar seus planos: seu teste de covid dera positivo. Mas, quando o jovem de 29 anos chegou ao aeroporto de Miami (EUA), não disse nada aos agentes da American Airlines que fizeram seu check-in. Em vez disso, apresentou um atestado que dizia que ele estava apto a voar.
Foi só no dia seguinte, quando pousou em Buenos Aires e as autoridades de saúde mediram sua temperatura, constatando que ele estava com febre de 38,5ºc, que veio a confissão: ele estava com covid-19 – e não deveria ter embarcado.
“Devido a esse comportamento irresponsável e egoísta, 200 pessoas estão em risco, apesar de terem feito a coisa certa durante a viagem”, disse Florencia Carignano, principal autoridade de imigração da Argentina.
Assim como acontece em muitos outros países, a Argentina exige que os viajantes internacionais vindos dos EUA apresentem comprovante recente de recuperação da covid-19 ou um teste negativo para embarcar.
Como em grande parte da América Latina, porém, as campanhas de vacinação são lentas – em grande medida por causa da escassez de suprimentos estocados pelos EUA e outros países ricos. Cerca de 7 milhões de pessoas, ou 16% da população argentina, receberam pelo menos uma dose, de acordo com dados do Washington Post.
Ansiosos e cansados de esperar, alguns argentinos ricos têm viajado para Miami para tomar vacinas. As autoridades disseram que Portillo, dono de uma empresa de lavagem a pressão, foi um deles.
Não está claro se Portillo chegou a ser vacinado. Mas as autoridades argentinas dizem que, em algum momento no sábado, ele recebeu um atestado de uma clínica da Flórida declarando que ele estava bem de saúde e podia viajar para o exterior.
Em entrevista a uma rádio argentina, Juan Manuel Dragani, advogado que representa a clínica, insistiu que o certificado não era falsificado nem fraudulento e fora emitido para o paciente de acordo com todas as diretrizes americanas. “A responsabilidade direta é do acusado”, disse Dragani, observando que o único contato de Portillo com a clínica foi por teleconferência.
O fato é que, às 17h15 de sábado, Portillo recebeu um resultado de PCR afirmando que ele tinha testado positivo para o coronavírus, disseram as autoridades. Por volta da meia-noite, ele embarcou no voo AA921 da American Airlines – que transportava outros 258 passageiros e 12 tripulantes.
Depois de confessar a fraude, ele foi preso e levado a um hotel sanitário em Buenos Aires. Numa breve entrevista por telefone para o jornal Clarín, Portillo disse que estava com febre, recebendo tratamento médico sob custódia, que a reportagem anterior do jornal sobre seu caso era “tudo mentira” e se recusou a oferecer mais detalhes sem consultar seu advogado – ele ainda não designou um.
Florencia Carignano disse que ele pode pegar até 15 anos de prisão com base em uma lei argentina que proíbe as pessoas de expor outras a doenças infecciosas. A companhia aérea não se manifestou sobre o caso.