Domingo, 12 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de maio de 2018
Os donos de cargas que estragaram nas estradas bloqueadas pelos manifestantes não deverão conseguir ressarcimento pelas seguradoras, ainda que tenham comprado apólices que os protegiam de riscos ligados a transportes.
Existem cláusulas que preveem pagamentos aos segurados em casos de greve, tumulto e comoção social, afirma Sergio Caron, responsável pelo segmento Marsh.
“Elas são para danos ocasionados diretamente por manifestantes grevistas, situações em que alguém deliberadamente ataca a carga parada.”
Perdas com bens que apodreceram ou perderam a validade em decorrência do tempo perdido nas estradas não estão previstos, afirma Caron.
O tema deverá ser judicializado, segundo Ernesto Tzirulnik, presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Seguro.
Essa paralisação é única, não se trata de greve, pois os caminhoneiros não pararam para exigir algo do sindicato patronal, afirma ele.
“Se as seguradoras tinham intenção de excluir esse tipo particular de causa de prejuízo, redigiram essas situações nos contratos com um cuidado.”
Parte das reclamações dos segurados deverá ser atendida, diz Tzirulnik.
O número de empresas que deve pedir ressarcimento não deve ser alto, afirma Felipe Bastos, sócio do Veirano: “É um evento de força maior, geralmente cada um fica com seu próprio prejuízo”.
A receita com a venda de prêmios de seguros de transporte teve alta de 12,6% entre janeiro e abril deste ano, na comparação com o mesmo período de 2017.
Sentimentos contraditórios
A vitória dos caminhoneiros na negociação com o governo animou categorias de trabalhadores que começam a negociar reajustes, mas os sindicatos preferem não se vincular ao movimento que bloqueou as estradas.
“Acalorou a classe, as reivindicações são justas, mas há uma mensagem de autoritarismo que transcende os pedidos e me incomoda”, diz Mauro Brito, vice-presidente do Sintetel (trabalhadores de telecomunicações).
Uma outra categoria, a dos eletricitários de empresas prestadoras de serviços à distribuidoras de energia, quase entrou em greve por falta de pagamentos de salários ou benefícios atrasados.
“As empresas receberam uma verba das concessionárias e devem quitar isso. Desmarcamos a paralisação, mas mantemos o estado de greve”, afirma Eduardo Annunciato, do sindicato dos eletricitários de São Paulo.
Os bancários, que costumam parar durante seus dissídios, ainda não têm nenhuma suspensão prevista para este ano — isso será decidido no segundo semestre.
Fabricante
A Randon, fabricante de reboques e autopeças, investirá R$ 100 milhões até o fim de 2018 no aumento de sua capacidade.
“O valor não inclui eventuais aquisições. O foco é melhorar a produtividade. Vamos direcionar recursos à área de implementos e à fábrica de freios”, diz o vice-presidente de finanças, Daniel Randon.
Entre os investimentos está a modernização de plantas em Caxias do Sul e São Leopoldo (RS), Chapecó (SC), Sorocaba (SP), e Argentina. “A ideia é tornar a fabricação mais ágil e usar materiais mais leves.”
A produção dedicada ao mercado externo, que historicamente representou menos de 20% da receita da empresa, deverá chegar neste ano a R$ 1,12 bilhão —26,6% do faturamento de 2017.
“Prevemos alta da produção nacional do setor, de 83 mil caminhões para 95 mil.”
A paralisação dos caminhoneiros, contudo, poderá afetar o quadro, segundo ele.
“Nossas fábricas começaram a ficar desabastecidas na última quinta (24) e paramos a produção. Quando for normalizada, compensaremos [o tempo perdido] com jornadas aos sábados”, afirma Randon.
“A política de reajustes do preço do combustível tem impacto na renovação da frota. Não faz sentido um País com inflação baixa ter essa volatilidade de custos. Se a Petrobras tivesse concorrente, o preço não sofreria tanta variação assim.”