Sábado, 02 de agosto de 2025

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Geral Aumento no uso de inteligência artificial por advogados e juízes acende alerta no Judiciário

Compartilhe esta notícia:

Um aumento inesperado de produtividade despertou a atenção da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Maranhão. (Foto: Reprodução)

Um aumento inesperado de produtividade despertou a atenção da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Maranhão para a atuação de um juiz no município de Balsas, no interior do estado. Nos sete primeiros meses de 2024, Tonny Carvalho havia mantido uma média de 80 decisões mensais. Em agosto, porém, foram 969 sentenças, numa disparada acima dos 1.000%. Menções a precedentes inexistentes deram pistas do que poderia estar por trás da aparente eficiência: a inteligência artificial. Em meio ao boom da tecnologia em diferentes áreas, o Judiciário também se vê às voltas com os desafios inerentes ao – bom ou mau – uso da ferramenta em processos e afins.

Em abril, o desembargador José Luiz Oliveira de Almeida determinou a abertura de uma sindicância, ainda em curso, para apurar a suspeita de utilização de IA na 2ª Vara da Comarca de Balsas. Na decisão, Almeida destacou que o salto de produtividade coincidiu com a publicação de sentenças “que parecem seguir padrão único, a indicar o uso de inteligência artificial de forma inadequada”. A defesa de Carvalho não comentou por entender “que o tema ainda está em discussão nos canais institucionais competentes”.

Advogado em um dos processos citados na sindicância, Júlio Wanderson Barbosa diz que a suposta conduta do juiz pode ter prejudicado sua cliente, uma mulher analfabeta. Na ação, que acabou perdendo, a moradora de Balsas pedia a nulidade de um empréstimo consignado:

“A minha posição é no sentido que não podemos fechar os olhos para as inovações, mas, obviamente, tem de ser feito de uma forma que não leve a uma situação de prejuízo a uma pessoa hipervulnerável.”

O caso no Maranhão não é isolado. Em 2023, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) se deparou pela primeira vez com um episódio do tipo, quando jurisprudências inexistentes serviram para basear uma decisão do juiz Jefferson Ferreira Rodrigues, da 2ª Vara Cível e Criminal de Montes Claros (MG), que negou indenização a uma servidora pública. Em depoimento à Corregedoria após alerta do advogado da parte autora, um assessor do magistrado admitiu ter retirado as sentenças do Chat-GPT. O processo acabou arquivado em julho de 2024.

Em março, o CNJ publicou uma resolução para orientar juízes e tribunais quanto ao uso de IA, com padrões de auditoria, monitoramento e transparência, além da obrigatoriedade de proteção de dados pessoais e respeito ao segredo de Justiça. O documento também cria uma classificação de riscos. Entre as maiores ameaças, está o uso da tecnologia para identificar perfis e padrões comportamentais, bem como para classificar fatos como crimes ou identificar quais leis se aplicam aos casos. Outros atos da elaboração de decisões judiciais, como a pesquisa de jurisprudência, constam como de “baixo risco”.

“A resolução deixou muitos buracos. A principal preocupação é a possibilidade do juiz usar serviços públicos que não têm nenhuma regra de proteção de dados. Não se dá ao juiz o treinamento adequado para que ele entenda o que é um sistema como esse”, pontua a professora de Direito Ana Frazão, da Universidade de Brasília (UnB).

Para o advogado e especialista em tecnologia Ronaldo Lemos, será preciso criar normas e procedimentos para lidar com a ferramenta:Vão ser necessários protocolos para o uso da IA, inclusive com verificação humana dos resultados. Ao mesmo tempo, será preciso capacitar juízes, advogados e equipes jurídicas. Muitos erros são por ignorância pura e simples de como a IA funciona.”

Os desafios aparecem também do outro lado do balcão do Judiciário. Em maio, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin rejeitou uma petição na qual identificou o uso da tecnologia pela presença de “precedentes inexistentes e declarações falsas”, além da marca d’água em todas as páginas que indicava o emprego de um assistente de escrita com IA. Zanin também determinou que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) fosse notificada do caso e, por entender ter ocorrido má-fé, condenou o autor a pagar o dobro das custas processuais.

Os conflitos decorrentes do uso da IA, contudo, vão além. A OAB do Rio de Janeiro processa uma empresa por entender que ela viola o Estatuto da Advocacia ao vender petições geradas por IA para serem usadas nos Juizados Especiais, instâncias dedicadas a casos de menor complexidade e nas quais é permitido impetrar ações sem um advogado.

“A própria parte pode peticionar, o que não pode é alguém ter lucro com um trabalho jurídico sem participação de advogados. Se fosse revisado por um, não teria problema”, argumenta a presidente da OAB-RJ, Ana Tereza Basilio.

A 27ª Vara Federal do Rio chegou a conceder uma liminar suspendendo as atividades do site, posteriormente derrubada. A OAB-RJ recorreu, então, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o presidente da Corte, Herman Benjamin, optou por não acolher o pedido. Para o ministro, a plataforma não aparenta violar nenhuma norma.

“Seria paradoxal dispensar por lei a assistência obrigatória de advogado e, ao mesmo tempo, entender que o cidadão só poderia receber auxílio, inclusive na formalização de seu pedido, por meio de advogado. E ainda pior seria vedar, pela via transversa, o uso de ferramentas amplamente utilizadas atualmente até por pessoas leigas, como a inteligência artificial”, escreveu Benjamin.

O processo ainda não teve o mérito julgado e segue tramitando. Procurada, a empresa Resolve Juizado disse prestar serviço “a pessoas que muitas vezes não têm a menor noção de seu direito e não tem condição de pagar ou mesmo de procurar um advogado”. As informações são do jornal O Globo.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Geral

Quer emagrecer rápido? Veja 10 dicas comprovadas cientificamente, segundo nutricionista
Novo filme do “Quarteto Fantástico” tem inspiração no arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer; entenda
https://www.osul.com.br/aumento-no-uso-de-inteligencia-artificial-por-advogados-e-juizes-acende-alerta-no-judiciario/ Aumento no uso de inteligência artificial por advogados e juízes acende alerta no Judiciário 2025-07-29
Deixe seu comentário
Pode te interessar