Quarta-feira, 02 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 15 de agosto de 2024
Laboratório combinou imagens de satélites e radar, associadas às coordenadas geográficas da rota do voo.
Foto: Ufal/DivulgaçãoUma análise de satélite aponta que o avião da Voepass que caiu na última sexta-feira (9) em Vinhedo, no interior de São Paulo, voou entre oito e dez minutos dentro de uma formação de gelo severo – uma condição climática que o manual da fabricante classifica como de “emergência” e que pode levar a aeronave, um ATR 72-500, a perder sustentação e girar.
As 62 pessoas que estavam a bordo morreram no acidente. As causas da queda da aeronave estão sob investigação do Cenipa.
Entenda a condição crítica enfrentada pelo avião:
– O manual da aeronave diz que “gelo severo indica que a taxa de acumulação é tão rápida que os sistemas de proteção de gelo falham em remover a acumulação de gelo (1 centímetro em menos de 5 minutos)”.
– Ainda de acordo com o manual, “a equipe precisa sair dessa condição imediatamente”.
A análise do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), estima que o avião da VoePass tenha ficado de 8 a 10 minutos sob gelo severo. “É um tempo considerável para uma condição extremamente desfavorável”, disse o meteorologista Humberto Barbosa.
Um laudo mostra ainda que o avião esteve com o sistema de degelo inoperante em, pelo menos, seis ocasiões em três dias de julho de 2023. A empresa diz que o mecanismo funcionava no dia do acidente. O documento foi obtido pelo jornal O Globo.
A aeronave tem luzes na cabine para alertar a tripulação sobre o impacto do gelo. Quando a exposição ao gelo persiste, o avião perde sustentação; o sinal visível dessa condição é o manche, alavanca usada para controlar a direção, tremer. A saída de pilotos em condição sob gelo é algo treinado em simuladores, disse um instrutor de ATR.
Risco do gelo acumulado
Quando o gelo severo acumulado nas superfícies de voo, como as asas e o estabilizador horizontal, não é removido pelo sistema antigelo, ele pode “degradar seriamente a performance e controlabilidade da aeronave”, diz o manual obtido pelo jornal.
A reconstituição do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas, revela que o avião da VoePass enfrentou uma zona meteorológica crítica e atravessou nuvens com temperatura abaixo de -40 °C.
O laboratório combinou imagens de satélites e radar, associadas às coordenadas geográficas da rota do voo. O meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Lapis, disse “ficou assustado” quando olhou as condições meteorológicas do estado de São Paulo no dia 9.
“Naquela rota, o plano de voo ia pegar uma situação crítica, não só pela área de formação de gelo severa, porque você tinha essas condições termodinâmicas, mas também de ventos nessa região que estavam sendo alimentados por outros sistemas.”