Sábado, 25 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de julho de 2019
Além de expor a desarticulação no Congresso, a tentativa de Jair Bolsonaro de aliviar as regras de aposentadoria de agentes de segurança mantidos pela União expôs de maneira indefectível divergências entre o presidente e sua equipe econômica. Na manhã da última quinta-feira (04), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) fez apelo para que policiais federais fossem retirados da reforma da Previdência e inseridos em novo projeto de lei complementar. Paulo Guedes (Economia) mandou recado na direção oposta.
Guedes sinalizou sua opinião por meio de interlocutores. Ele não se envolveu pessoalmente na operação que contrariava a vontade do chefe. O entendimento da equipe econômica é semelhante ao do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que abrir precedente aos policiais pode ampliar o lobby de outras categorias.
A ação do ministro da Economia foi detectada por aliados de presidente que trabalhavam, no Parlamento, para atender os agentes de segurança, uma das bases do bolsonarismo. Esse grupo de deputados diz que Guedes foi “egoísta” ao trabalhar contra a emenda dos policiais. Aliados de Bolsonaro dizem que as divergências nesse “casamento hétero”, como o próprio presidente nomina sua aliança com Guedes, devem ficar ainda mais claras.
O fato de o ministro ter chamado o chefe de “ingênuo” e ainda assim ter sido ovacionado por agentes do mercado financeiro em evento da XP tende a favorecer o quadro de estranhamento. A bateção de cabeças no partido de Bolsonaro e entre integrantes do próprio governo foi saboreada por líderes de siglas de centro e centro-direita. Pela primeira vez, dizem eles, o presidente prova o gosto da política de confrontação e pressão via redes sociais que criou.
Permanece viva no PSL a ideia de apresentar no plenário uma emenda que retire as polícias da reforma e preveja condições especiais em um projeto de lei complementar. Em um almoço com dirigentes e líderes de partidos, Maia pediu o empenho deles na aprovação das novas regras de aposentadoria até o fim deste mês. Ele avalia que lobbies de servidores vão ganhar mais força com o passar do tempo.
Investigação
O ministro Bruno Dantas, do TCU (Tribunal de Contas da União), determinou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, responda em 24 horas se o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) está analisando as movimentações financeiras do jornalista Glenn Greenwald.
Dantas acolheu representação do Ministério Público junto ao TCU, que enxergou em eventual investigação uma tentativa de retaliação a Greenwald. Ele é um dos fundadores do site The Intercept Brasil, que está revelando as mensagens de Sérgio Moro com os procuradores da Operação Lava-Jato. O ministro pede que Guedes envie ao TCU uma cópia do processo, se ele existir, e os fundamentos de uma eventual análise do Coaf.