Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2016
Depois de ficar 20 dias detida em um abrigo para menores imigrantes em Chicago, nos Estados Unidos, a adolescente Anna Stéfane Radeck, de 17 anos, chegou ao Brasil nesta sexta-feira (03). A realidade do período que passou longe de casa, porém, é pior do que a família imaginava. Conforme seu pai, Sérgio Ferreira, Stéfane contou ter passado fome e frio, além de constantes ameaças. “Stéfane passou o voo inteiro de volta chorando, está muito abalada”, revelou.
Enquanto estava detida, nas poucas chances que teve de contatar a família, em duas ligações semanais, a adolescente relatou estar bem tratada e confortável, assim como nas vezes em que encontrou a mãe, Liliane Carvalho. Já em casa, Stéfane disse ao pai que os assistentes sociais ameaçavam que ela passaria mais tempo detida caso falasse o que estava passando. “Tudo que ela nos falava era gravado e, por isso, diziam que ela seria punida se ouvissem algo negativo”, afirmou.
Nem sempre sentar à mesa do refeitório significava que Stéfane poderia comer. Segundo o pai, os alimentos não eram suficientes para todos os menores detidos e, por isso, as últimas mesas muitas vezes não recebiam as refeições. “Não era digno. Diziam que eles estavam comendo às custas do governo americano, gastando dinheiro”, comentou Ferreira. A adolescente também relatou ter passado por “outras situações horríveis” que prefere não levar a público, por serem “ainda mais humilhantes”.
Ameaças.
O momento da saída, tão aguardado pelos pais, parecia estar ainda mais longe para Stéfane. Segundo Ferreira, um dos funcionários do abrigo chegou a dizer à jovem que “nunca viu um advogado conseguir tirar alguém de lá”. Mesmo com data marcada para sua saída desde terça-feira, ela só soube que estava livre minutos antes de ser buscada, na quinta-feira, e foi escoltada até o aeroporto, onde encontrou a mãe. Agora, a família pretende processar o governo americano pelo tratamento.
Stéfane foi barrada pela imigração no dia 11 de agosto ao parar para uma conexão em Detroit, Michigan. Ela estava sozinha a caminho de Orlando, para visitar uma tia que mora há dois anos nos Estados Unidos. Mesmo com todos os documentos necessários para a entrada no país, e já tendo visitado o país outras vezes, oficiais suspeitaram que a menina pretendia permanecer em território americano além do tempo permitido. Por ser menor de idade e estar desacompanhada, ela foi levada ao abrigo.
Na audiência da última terça, a juíza responsável pelo caso pediu desculpas pela detenção da jovem e disse que seu visto para entrar no país seria mantido. “Nem nisso acreditamos mais, eles mentiram para a gente diversas vezes”, afirmou o pai. A família também faz críticas do Consulado Brasileiro em Chicago, que insistiu que a menina estava bem tratada e que não teria prestado assistência suficiente para liberá-la.
Relatos do medo.
Stéfane costumava frequentar a biblioteca do abrigo durante sua estada no local. Nos livros, a menina lia recados de outras crianças e adolescentes detidos, que falavam sobre o medo de que nunca sairiam ou afirmavam estar lá há meses, sem previsão de saída.
De acordo com a advogada Raquel Gross, há outros seis menores brasileiros no abrigo de Chicago, entre eles Lilliana Matte, de 17 anos, cuja família também aguarda a liberação. Segundo Sérgio, uma brasileira de 13 anos foi barrada junto com sua filha, no aeroporto de Detroit, e levada para o mesmo centro, mas não há mais informações sobre o caso.