Domingo, 22 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 21 de junho de 2025
A fraude contra segurados do INSS parece não ter fim. Mesmo depois de denunciado o escândalo dos descontos ilegais nos benefícios de aposentados e pensionistas, os responsáveis pelo crime insistem no golpe. Associações recém-desmascaradas tentam agora provar ter agido de forma correta usando informações e dados falsos. Relatos de familiares de beneficiários lesados revelam o alcance da desfaçatez.
O caso da mãe da advogada Ana Luiza Moura é exemplar. Desde 2023, sofreu descontos não autorizados em seu benefício, em favor da associação Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec). Ela tentou cancelar o vínculo com a associação sem êxito. A partir daí, iniciou-se um calvário burocrático. Seguindo o procedimento recomendado às vítimas dos golpistas, a mãe de Ana Luiza abriu processo no INSS para contestar a adesão ilegal à Ambec.
A denúncia entrou em análise. Foi concedido prazo para a associação se manifestar e apresentar documentação comprovando o vínculo da segurada e a autorização para o desconto. Ana Luiza foi informada, pelo aplicativo “Meu INSS” da mãe, que a Ambec apresentara documentos segundo os quais ela concordara com o desconto.
O CPF da segurada estava correto, mas em nome de outra pessoa. A Ambec também juntou ao processo um áudio que atribuiu à mãe de Ana Luiza. Nele alguém se apresentava com nome diferente e outro CPF, como se fosse ela dando aval à adesão.
A mesma mistura de documento verdadeiro com informações falsas foi feita na tentativa de provar a legalidade de deduções criminosas no benefício do sogro de Ana Luiza. “É um absurdo, fiquei revoltada, porque não basta o que já fizeram, ainda estão fazendo de novo, agindo criminosamente”, diz ela.
Sua mãe tem 80 anos e o sogro 84. Recebem aposentadorias em torno de R$ 3 mil, descontadas indevidamente em R$ 45 por mês cada — valor pequeno para não chamar a atenção, um aspecto sibilino do golpe.
Um desvio de R$ 45 dos 3,2 milhões de aposentados e pensionistas que até agora formalizaram a denúncia dos descontos representa um assalto de mais de R$ 140 milhões por mês. Talvez seja o maior golpe já dado no conjunto da população brasileira que se conheça.
É certo que as fraudes precisam ser comprovadas para haver ressarcimento. Mas não se pode atribuir o ônus da prova às vítimas. Ao tratar com leniência os golpistas, abrindo caminhos burocráticos morosos, o INSS lhes permite falsificar a inscrição de associados e persistir no delito.
Para acalmar os lesados, o novo presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, afirmou que, nas situações em que a entidade beneficiada pelo golpe apresentar documentos e os segurados continuarem a contestar, valerá a palavra do aposentado ou pensionista. É o correto, mas já deveria ser assim. Por que o INSS criou uma via-crúcis burocrática que permite a fraudadores — incluindo sindicatos que viram nesse dinheiro fácil a chance de compensar a perda do imposto sindical — insistir na fraude? Não faz sentido. As informações são do portal O Globo.