Terça-feira, 15 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de novembro de 2022
Em busca de apoio para aprovar promessas de campanha no Congresso Nacional, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já recebe o aceno de importantes caciques do Centrão.
Prova disso é que ao mesmo tempo em que a cúpula da transição, comandada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), se reunia com o relator-geral do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), o deputado federal José Guimarães (PT-CE) se encontrava com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Foi quando chegaram a um entendimento para que pautas de interesse da futura gestão avancem.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos anos, Lira disse que “topa ajudar” o governo eleito, segundo Guimarães, com pautas urgentes para o futuro chefe do Executivo e que são importantes para o país, entre elas propostas referentes à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2023 e as medidas que serão construídas em torno da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Transição.
Guimarães relatou que apesar de o presidente da Câmara ter posições diferentes do PT, vai buscar um melhor entendimento e está disposto a construir um bom termo nessas proposições. Segundo Guimarães, “as portas foram democraticamente abertas”.
“Tivemos a primeira conversa oficial com o presidente da Câmara. A conversa foi boa. Ele disse que topa ajudar, topa a dialogar, que vai sentar com o Lula e, depois, discutir a pauta. Na minha percepção, o presidente Lira e o pessoal do Senado, que discute com o presidente (Rodrigo) Pacheco (PSD), vão buscar o melhor entendimento com o governo. (Lira) tem posições diferentes, mas está disposto a construir um consenso para votações de matérias que interessem ao novo governo. Isso é o saldo político da reunião”, frisou Guimarães, enquanto se encaminhava para a Liderança petista no Senado, onde estava a cúpula da transição após a reunião com o relator do Orçamento.
Adesão imediata
O histórico de relacionamento de Lula com expoentes de PL, PP e Republicanos deve balizar a busca do futuro governo por apoios dentro do Centrão, bloco que deu suporte à candidatura de Jair Bolsonaro. Embora as cúpulas dessas legendas evitem uma adesão imediata ao governo Lula, o petista já recebeu acenos principalmente do Republicanos, sigla ligada à Igreja Universal, que sinalizou não ter intenção de fazer oposição à futura gestão.
As três siglas do Centrão somam 187 deputados eleitos, e alguns interlocutores e lideranças já admitem que haverá adesões individuais à base de Lula, que conta com esses apoios para ter margem de governabilidade. O bloco é maior do que os 139 parlamentares de partidos que apoiaram formalmente o PT, que busca ainda atrair nomes de siglas que ficaram neutras no segundo turno, como PSD e União Brasil, além do MDB.
No caso do PL, a estimativa na Executiva do próprio partido é que, dentre os 99 deputados eleitos, mais de 40 estarão dispostos a ajudar o futuro governo, se forem atendidos com cargos e emendas. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, que ofereceu um salário e assistência jurídica a Bolsonaro para que ele possa se defender de processos e manter uma atuação política, disse a pessoas próximas que a ideia é permitir que haja adesões individuais à base do governo. O líder do PL na Câmara, deputado Altineu Côrtes (RJ), disse ao jornal Valor que o partido “é oposição ao governo que se elegeu (…) assim como o PT foi ao nosso governo”, mas que não poderia falar “individualmente” pelos parlamentares.
O PL, quando ainda se chamava Partido da República (PR), foi da base do governo Lula e apoiou a eleição da sucessora escolhida pelo petista. No governo Dilma, houve estremecimentos na relação logo no início do mandato, depois que a presidente escanteou o então presidente do PR, Alfredo Nascimento, na chamada “faxina ética” no Ministério dos Transportes. Líder do partido à época, o deputado Lincoln Portela (PL-MG) diz que será uma “oposição consciente” a Lula, mas sem deixar de votar “no que for bom para o Brasil”. O deputado eleito Alberto Fraga (PL-DF), aliado de Bolsonaro, também afirma que fará oposição, mas espera que Valdemar libere os parlamentares nas votações.
“A gente até prevê o que pode acontecer: aliança (do PL com o governo). Se não houver aliança com PP, PL e Republicanos, (o PT) não governa. Eles sabem disso”, declarou Fraga.
Dos três partidos do Centrão, o PP é a sigla que teve o maior número de parlamentares, 20, sem participar da campanha de Bolsonaro no segundo turno. A lista inclui nomes, principalmente do Nordeste, que têm histórico de boas relações com gestões petistas. São os casos dos deputados Aguinaldo Ribeiro (PB), ex-ministro das Cidades no governo Dilma, e Mário Negromonte Jr. (BA), aliado do PT na Bahia e cujo pai foi antecessor de Ribeiro na pasta.
Líder do governo Bolsonaro na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) disse que as conversas estão acontecendo, mas que o eleitor precisa de um tempo para “distensionar” e aceitar que os deputados colaborem com a governabilidade. As informações são dos jornais Correio Braziliense e O Globo.