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| Cadê ônibus?

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foto: helia scheppa/ae

Eta vida difícil! Depender de transporte público é pagar os pecados em vida. Segunda-feira foi a vez dos paulistanos. Motoristas e cobradores decidiram cruzar os braços. O governo não gostou. Considerou intempestiva a paralisação. O cidadão tampouco aplaudiu a iniciativa. Protestou. Um ônibus virou fogueira na avenida Anhanguera.

A imprensa fez o que tem de fazer. Noticiou o fato. Palavras chamaram a atenção dos leitores atentos. Eles levantaram questões de grafia, flexão, regência e propriedade vocabular. Intempestivo, paralisação, micro-ônibus, incendiar e protestar sobressaíram no quebra-cabeça da moçada que pediu ajuda à coluna. Vamos a elas?

 

Questão de tempo

O governo considerou a greve intempestiva. Certo? Certíssimo. Muitos empregam intempestivo na acepção de temperamental. Bobeiam. A palavra pertence à família de tempo. Tempestivo significa oportuno – o que vem ou sucede no tempo devido. Intempestivo é o contrário. Quer dizer inoportuno, fora do tempo próprio: Os motoristas consideram a paralisação tempestiva. O governo, intempestiva.

 

“S” ou “Z”?

Paralisação se escreve com “s” ou “z”? A questão é velha como o rascunho da Bíblia. A resposta está na família. Paralisar se grafa com “s”. Paralisação, membro do clã, mantém o “s”. A letra funciona como sobrenome.

 

Um lá, outro cá

Micro-ônibus também deixou a moçada de cabelo em pé. A duplinha pede hífen? Não pede? A reforma ortográfica dá a resposta. Letras iguais provocam curto-circuito. O tracinho evita o contato. É o caso. Micro termina com “o”. Ônibus começa com “o”. Daí micro-ônibus e micro-ondas.

A regra vale para outras letras. Veja: contra-ataque, super-regional, auto-organização, anti-imperialismo, mini-investimento, maxi-incêndio, sub-bloco.

 

Fogueira urbana

Ônibus em chamas virou rotina. A paralisação de São Paulo serve de confirmação. Na movimentada avenida Anhanguera, fogueira chamou a atenção de gregos, baianos e goianos. Era mais do mesmo. Puseram fogo no coletivo que leva e traz a população. Enquanto se ouviam protestos aqui e ali, o verbo incendiar entrou em cartaz. Como conjugá-lo?

Incendiar pertence à gangue do MARIO. “M” de mediar, “a” de ansiar, “r” de remediar, “i” de incendiar e “o” de odiar. Todos se conjugam como odiar: odeio (medeio, anseio, remedeio, incendeio), odeia (medeia, anseia, remedeia, incendeia), odiamos (mediamos, ansiamos, remediamos, incendiamos), odeiam (medeiam, anseiam, remedeiam, incendeiam). E por aí vai.

 

A favor ou contra?

Protestar joga em dois times. No sentido de insurgir-se, pede a preposição contra. Na acepção de clamar, bradar, rege a preposição por: Os motoristas protestam por melhores salários. O governo protesta contra a paralisação.

 

Leitor pergunta

Sou atento leitor de jornais. Além do interesse na notícia, presto atenção especial à língua. Tropeços não passam despercebidos. No domingo, encontrei “falsicação de documentos”, “construções põe em risco”, “ele tinha pagado”. Está mal, não? João Manoel Moreira

Como o jornalista escreve? A resposta é uma só – com pressa e sob pressão. Muitas vezes não tem tempo de reler o texto. O resultado são falhas de gente distraída. Falsicação aparece no lugar de falsificação. “Construções põe em risco título de patrimônio histórico”, pisa a concordância. Bobeira, não? O verbo está pertinho do sujeito. Difícil errar em tal situação. Faltou releitura.

A língua, generosa, sabe que os falantes são diferentes. Uns jogam no time dos perdulários. Esbanjam sílabas. Outros, no dos econômicos. Poupam letras. O verbo pagar satisfaz a uns e a outros. Como? Tem dois particípios – pago e pagado. A regra manda usar pagado com os auxiliares ter e haver. Pago, com ser e estar.

É aí que entra a generosidade do português. Pagar, como ganhar e pegar, permite o emprego da forma reduzida com ter e haver: tinha (havia) pago ou pagado, tinha (havia) ganho ou ganhado; tinha (havia) pego ou pegado.

Você, Manoel, prefere pago. É preferência, não obrigação. Palmas pra você. Palmas pro
repórter.

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