Quinta-feira, 15 de maio de 2025

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Ali Klemt Carta aberta aos meus filhos (e talvez aos seus)

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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Ah, filhos… o que vocês mais ouvirão de sua mãe é que ela os ama sem fim. De uma forma absoluta, inabalável e integral que apenas uma mãe pode amar – e sobre essa afirmação, eu não tenho dúvida alguma. Nem todas as mulheres que geram são “mães”, mas as mães de verdade… as que criam, acolhem, educam, protegem suas crias… esse amor é visceral, emocional, espiritual. E em relação a esse, não há comparação. Apenas não há. E, nesse ponto, serei mesmo intransigente e inarredável. Apenas não há. Ponto. Simples assim.

Mas há muitas, muitas outras coisas envolvidas, submersas abaixo da linha daquilo que podemos, claramente, perceber (embora eu tenha lá minhas dúvidas se alguém efetivamente percebe o trabalho materno). E sobre essas questões cotidianas pouco falamos. Na verdade, até falamos, mas à boca pequena, entre sussurros, porque são assuntos restritos a esse pequeno grupo: as mães. Completamente apaixonadas por seus filhotes, porém constantemente exaustas, as mães são uma população à parte, com regras próprias: alimentam culpa eterna, correm como loucas, tentam fazem o seu melhor, fingem que controlam o mundo, parecem não precisar de retribuição alguma, mas sempre choram ao menor sinal de gratidão. Basta um coração torto desenhado no dorso da mão, uma flor catada no canteiro da esquina ou um “você é a melhor mãe do mundo” jogado assim, ao vento, para acalentar nossa alma em constante trabalho (desde o “trabalho de parto”), em incessante construção desses seres humanos que o universo entregou aos nossos cuidados.

É tudo tão, tão… poético… mas momentos como o início do ano letivo nos unem em anseios comuns. Não basta comprar o material escolar (agradeça pelo fato de poder pagar à vista pelo PIX ou até mesmo se você tem crédito pra parcelar em 67x): é preciso orçar os melhores preços, negociar com o próprio filho a escolha pelo conjunto de lápis que não custa o valor de uma batedeira nova, carregar as cinco sacolas repletas de coisas que você ainda segue duvidando que serão, realmente, usadas (giz aquarela? Ah, pelamordedeus!). Não. Isso não basta. Você já praticamente deixou o rim pra pagar a conta (e agradece pela brilhante ideia de ter inserido a mochila nova na lista do Papai Noel – essa já está paga) e percebe que é preciso “viver” esse momento com seu filho. Curtir o novo material. Organizar a mochila, a rotina.

E aí percebe que, pra fazer tudo isso, é preciso desmontar o que havia antes. Tirar tudo pra fora. Jogar para o mundo. Avaliar o que restou. Filtrar. Limpar. Reutilizar o que puder ainda ser útil. Separar o que pode fazer outra pessoa feliz. Excluir o material que já não serve mais.

Observou esse último parágrafo? É uma lição de vida! Serve para absolutamente todos os setores da nossa vida. É um trabalho constante, esse. Acompanhar, atualizar, renovar. E seguir amando.

Mas não acaba aí. Além da questão material, há muitos outros aspectos envolvidos: a grade curricular, os horários, as idas e vindas para a escola, futebol, inglês (e aqui, cada um faz a sua lista). Há a questão do lanche, que é especialmente incômoda para quem tem filhos que não comem. É preciso, também, organizar os horários para a realização das tarefas de casa. Mas, principalmente – e essa parte é doída demais – a necessidade incontornável da imposição de uma rotina rígida: hora de acordar, escovar os dentes (você precisa ser e criar um ser humano limpo, afinal de contas), se alimentar (sem esquecer de beber água… e azar o de Pedro Bial e seu protetor solar, porque se não eu fico louca), checar a agenda, verificar o que precisa ser enviado, não ficar sem banho (lembra do ser humano asseado que estamos tentando formar?). É preciso ensinar os modos (mas, se comer com as mãos, já tá valendo, desde que ingira alguma coisa!). E é preciso controlar o tempo de acesso às telas e de exercícios físicos, bem como a linguagem utilizada em grupo (não sei quanto a vocês, mas, quando eles falam palavrão, eu sempre digo que vão comer pimenta, embora eu sempre esqueça de comprar). E, é claro, porque a vida é muito mais que apenas cumprir regras: há que se ler livros, contar histórias. Encantar antes de dormir, em meio a óleo de lavanda e beijos sem fim. Palavras sussurradas ao pé do ouvido para que não se esqueçam do amor infinito e dos valores que, dia após dia, tentamos inserir em suas vidas.

Tudo isso entre dois alarmes, o que manda deitar e o que chama para despertar. Um despertar que toda mãe luta para que seja mágico, com beijos, cafuné e aquele sem-fim de “bom dia, meu amor! Quer comer alguma coisinha?”. A resposta dependerá da idade, mas, independentemente dela, lá estará essa mãe, com o coração cheio de amor, mas muito possivelmente já atrasada, tentando iniciar a nova jornada com aquele sorriso que só elas – só nós – têm: um sorriso de imenso amor, infinita gratidão e uma enorme, irrefreável vontade de que você cresça para fazer isso tudo sozinho, embora, no fundo, seja melhor não crescer e continuar assim, dependendo de nós. Debaixo das asas. Mesmo que queiramos que voem (porque, sinceramente, é exaustivo), mas com a certeza de que nada, nadinha nesse mundo, vale tanto a pena quanto cuidar, amar, educar, zelar e ter vocês aqui, não só dentro do peito, mas ainda no lugar central de nossas vidas.

Ali Klemt

Apresentadora de TV

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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