Quinta-feira, 06 de março de 2025
Por Redação O Sul | 14 de junho de 2024
Não é verdade que casas de bombas de Porto Alegre foram sabotadas para causar as enchentes de maio. Uma falha em um gerador causou a interrupção momentânea de parte da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebap 5), que atende o bairro de Humaitá, em Porto Alegre.
O problema foi constatado em 29 de maio e resolvido no mesmo dia, segundo o Departamento Municipal de Água e Esgotos da capital gaúcha.
Na ocasião, um técnico do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) explicou que foi identificada uma falha nas bombas que abastecem de óleo diesel os geradores do local. Em outro post, o próprio departamento explicou que o desligamento não foi proposital. “Tivemos um problema no gerador e as equipes já estão no local resolvendo. Em seguida a flutuante e a CB 5 retomam a operação.”
Mais cedo, naquele mesmo dia, um empresário gravou um vídeo andando pela Ebap 5 e mostrando os equipamentos sem funcionar, sugerindo que teriam sido desligados de forma deliberada. Afirma, ainda, que um dos motores está sem operar desde o início das enchentes na cidade.
O Dmae explicou que a Ebap 5 perdeu a vazão naquele dia também por causa do acúmulo de lixo na região. Por isso, apenas um grupo motobomba funcionava naquele momento.
Além disso, a bomba flutuante que aparece do lado externo da Ebap 5, também afetada, foi emprestada pela Sabesp, sem custo à prefeitura de Porto Alegre, ao contrário do que alega o autor do vídeo. “Tanto a casa de bombas quanto a flutuante estavam ligadas através de gerador. No momento deste vídeo, foi uma falha no gerador que ocasionou a parada momentânea do bombeamento”, explicou o departamento.
Atualmente, a estação já opera na rede elétrica e está com três grupos de motobomba em funcionamento, cada um com capacidade para bombear dois mil litros de água por segundo, segundo a prefeitura. Todas as 23 Estações de Bombeamento de Águas Pluviais da cidade estavam em funcionamento antes da inundação, de acordo com o Dmae.
Devido ao alto volume de chuvas no Rio Grande do Sul no início de maio, o Rio Guaíba, que fica na Região Metropolitana de Porto Alegre, atingiu o nível histórico de 5,35 metros no dia 5. As chuvas de maio foram mais intensas e concentradas do que a cheia histórica de 1941.
Sendo assim, não faz sentido sugerir que a não operação das bombas de escoamento de águas pluviais foram a causa das enchentes. Segundo o professor Fernando Mainardi Fan, pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aliado ao volume recorde das chuvas, o que contribuiu para as enchentes em Porto Alegre foram falhas no sistema de proteção contra enchentes da cidade.
“As casas de bombas servem para tirar a água de dentro da cidade para fora, especialmente a água da chuva. Mas elas não são uma barreira motorizada para tirar a água para fora durante a ocorrência do evento”, explica o professor. “O que deveria ter segurado as águas são os diques, as comportas, os muros. Mas as águas acabaram entrando por falhas nessas estruturas, que formam a linha de frente do sistema de proteção. A causa da inundação foi que a barreira de defesa foi vencida”.
Segundo ele, alguns dos problemas estruturais foram a passagem das águas por vãos nas comportas e por cima dos diques de contenção, além de casos em que as águas retornaram por bombas de escoamento. “As causas disso têm a ver, claramente, em alguns locais, com falta de manutenção. Outros locais precisam ser investigados um pouco mais a fundo para entender exatamente o que aconteceu. Essas falhas são resultado de décadas de negligência com o sistema de proteção contra enchentes, não necessariamente algo que vem de agora”, acrescenta o professor.
A Ebap 5 não foi a única a apresentar problemas em meio à enchente, considerada a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. No auge da crise, apenas 17% das casas de bomba de Porto Alegre estavam funcionando e 19 tiveram de ser desligadas por causa de inundações ou falta de energia elétrica.