Quarta-feira, 25 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 24 de junho de 2025
Conforme Cid, o recolhimento do dinheiro foi consequência de negociações iniciadas em reunião na casa de Braga Netto
Foto: Rosinei Coutinho/STFO tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em acareação no Supremo Tribunal Federal (STF) com o ex-ministro Walter Braga Netto, que calculou a quantia de dinheiro que teria sido entregue a ele pelo general a partir do “peso da sacola” de vinho, na qual os valores teriam sido repassados.
Conforme Cid, o recolhimento do dinheiro foi consequência de negociações iniciadas em reunião na casa de Braga Netto, no dia 12 de novembro de 2022, da qual o delator teria saído mais cedo. Esses diálogos teriam ocorrido no contexto da empreitada para tentar reverter a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
“O réu colaborador disse que teria calculado o valor aproximado pelo peso da sacola, mas que em momento algum ela foi aberta”, diz a ata da acareação divulgada pela Corte.
Braga Netto, contudo, manteve a sua versão de que “jamais entregou qualquer quantia em dinheiro” ao tenente-coronel.
O relato dos dois réus converge em apenas um ponto: inicialmente, Cid procurou Braga Netto em busca de recursos, e o ex-ministro orientou que ele falasse com o tesoureiro do PL, Marcelo Azevedo. O tesoureiro, contudo, teria dito que não poderia oferecer qualquer quantia.
A divergência começa aí: Cid afirma que Braga Neto disse que conseguiria o dinheiro de outra forma, e depois fez a entrega no Alvorada, enquanto o ex-ministro nega que isso tenha ocorrido.
“O réu colaborador reafirma que o réu Braga Netto lhe disse que tentaria obter essa quantia de outro modo e que, posteriormente, teria entregue determinada quantia em dinheiro dentro de uma sacola de vinhos no Palácio da Alvorada. Por sua vez, o réu Braga Netto reafirma que, após a negativa do tesoureiro do PL não tratou mais desse assunto e que jamais entregou qualquer quantia em dinheiro para o réu colaborador”, registra a ata.
Cid afirmou que a sacola de vinho estava lacrada e que, por isso, não viu o dinheiro.
“Indagado pelo advogado do réu Braga Netto, se a sacola de vinho estaria lacrada ou aberta, o réu colaborador Mauro CID reiterou que estaria lacrada e portanto não chegou a ver o dinheiro”, diz o documento do STF.
Há duas semanas, durante interrogatório no STF, Braga Netto já havia negado ter repassado o dinheiro.
“Eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro para ninguém”, afirmou o ex-ministro, na ocasião.
No interrogatório, ele reconheceu que chegou a dialogar sobre dinheiro durante o período com Cid. Na sua “cabeça”, porém, seriam valores sobre campanha eleitoral — Braga Netto foi vice na chapar de Jair Bolsonaro.
“(Então) falo (ao Cid) assim: “Procura o Azevedo, procura o tesoureiro (do PL)”, que era o Azevedo. Eu deixei com o Azevedo, porque eu não sabia (para) o que era (o dinheiro). (Cid) procurou Azevedo. O Azevedo veio mais tarde para mim e falou assim: “General, o dinheiro que o Cid quer, está precisando, nós não temos amparo para dar”. Então, eu falei: ‘Morre o assunto’. E morreu o assunto”, disse.
Na versão de Cid em depoimento à Polícia Federal (PF), o dinheiro entregue por Braga Netto teria sido arrumado com “o pessoal do agronegócio”.
“Eu não tinha, como disse ao senhor (Alexandre de Moraes), contato com empresários. Então, eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid”, afirmou o general.
A acareação chegou ao fim pouco depois do meio-dia, após quase duas horas. A audiência foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, e teve a participação do ministro Luiz Fux e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Na sequência, o também ex-ministro Anderson Torres confrontou o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes. As acareações foram pedidas pelas defesas de Braga Netto e Torres e têm como objetivo esclarecer contradições entre os relatos. As sessões não foram gravadas, mas as atas foram divulgadas. (Com informações do jornal O Globo)