Quinta-feira, 15 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 2 de junho de 2020
Cientistas descobriram 27 proteínas essenciais no sangue de pessoas infectadas com Covid-19 que disseram que podem agir como biomarcadores que preveem o quão grave um portador da doença pode ficar.
Em uma pesquisa publicada no periódico científico Cell Systems nesta terça-feira (2), cientistas do Instituto Francis Crick britânico e da Charité – Universitaetsmedizin de Berlim, na Alemanha, descobriram que as proteínas estão presentes em níveis diferentes em pacientes de Covid-19, dependendo da gravidade de seus sintomas.
Os marcadores poderiam levar ao desenvolvimento de um exame que ajudaria os médicos a prever o quão grave um paciente pode ficar quando infectado com o novo coronavírus SARS-CoV-2, disseram, e também poderia fornecer novas metas para o desenvolvimento de possíveis tratamentos da doença.
A pandemia de Covid-19 já matou mais de 374 mil pessoas e infectou mais de 6,7 milhões em todo o mundo.
Médicos e cientistas dizem que os infectados com SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19, reagem de maneira diferente – alguns não desenvolvem nenhum sintoma, outros precisam ser hospitalizados e outros sofrem infecções fatais.
“Um exame para ajudar os médicos a preverem se é provável um paciente de Covid-19 se tornar um caso grave ou não seria inestimável”, disse Christoph Messner, especialista em biologia molecular do Instituto Francis Crick e coautor da pesquisa.
Segundo ele, tais exames auxiliariam os médicos a decidir a melhor forma de administrar a doença em cada paciente, além de identificar aqueles com risco maior de precisar de cuidado hospitalar ou tratamento intensivo.
A equipe de Messner usou um método chamado espectrometria de massa para examinar rapidamente a presença e a quantidade de várias proteínas no plasma do sangue de 31 pacientes de Covid-19 no hospital Charité de Berlim. Depois eles validaram os resultados em 17 outros pacientes com Covid-19 no mesmo hospital e em 15 pessoas saudáveis que serviram de referência.
Três das proteínas essenciais identificadas foram ligadas à interleucina IL-6, uma proteína conhecida por causar inflamação e também um marcador conhecido de sintomas graves de Covid-19.
Interesse científico
Em outro caso, a publicação médica britânica Lancet disse nesta terça-feira que tem preocupações relacionadas aos dados de um influente artigo que indicou que a hidroxicloroquina aumenta os riscos de morte em pacientes com Covid-19 – conclusão que reduziu o interesse científico pelo medicamento.
O estudo publicado pela Lancet em 22 de maio analisou cerca de 96 mil pessoas hospitalizadas com Covid-19 que foram tratadas com o medicamento, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou ter tomado e recomendou que outros tomassem. A hidroxicloroquina também é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Vários ensaios clínicos foram suspensos após a publicação do estudo.
O artigo da Lancet, chamado “Hidroxicloroquina ou cloroquina com ou sem macrolídeo para tratamento de Covid-19: uma análise de registro multinacional”, foi um estudo observacional – o que significa que compilou dados do mundo real, em vez de realizar um ensaio clínico tradicional – e usou dados fornecidos pela empresa de análise de dados de saúde Surgisphere.
Na semana passada, a Lancet publicou uma correção do estudo sobre a localização de alguns pacientes após críticas à sua metodologia, mas disse que as conclusões não foram alteradas.
Também na semana passada, quase 150 médicos assinaram uma carta aberta enviada à Lancet questionando as conclusões do artigo e pedindo a divulgação dos comentários da revisão por pares que levaram à publicação.
“Isso não é uma situação secundária ou uma questão menor”, disse Walid Gellad, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, que não assinou a carta, mas tem sido um crítico do estudo.
“Estamos em uma pandemia sem precedentes. Nós organizamos esses enormes ensaios clínicos para descobrir se algo funciona. E esse estudo paralisou alguns desses ensaios, além de mudar a narrativa em torno de um medicamento que ninguém sabe se funciona ou não”, afirmou.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu o uso da hidroxicloroquina em um grande teste clínico com pacientes de coronavírus após o estudo da Lancet. Na esteira da suspensão pela OMS, os governos da França, Itália e Bélgica também interromperam o uso do medicamento em pacientes da Covid-19. As informações são da agência de notícias Reuters.