Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 17 de julho de 2022
Por falhas no combate à demência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o número de pessoas acometidas pelo quadro deve crescer mais de 150% até 2050, passando de 55 para 139 milhões. Além da busca por novos e mais eficazes medicamentos para tratar a neurodegeneração, pesquisadores alertam para hábitos que a ciência já comprova serem capazes de atuar na prevenção desse cenário.
Em novo estudo publicado na revista científica Neurology, pesquisadores do Centro Médico da Universidade do Mississipi, nos Estados Unidos, avaliaram o impacto de um conjunto de sete hábitos simples, já preconizados pela Associação Americana do Coração para uma melhor saúde cardiovascular, na redução do desenvolvimento de demências.
Permanecer ativo; adotar uma alimentação saudável; evitar o sobrepeso; não fumar; manter a pressão arterial adequada; controlar o colesterol e a taxa de açúcar no sangue. “Esses hábitos saudáveis dos ‘7 simples da vida’ têm sido associados a um menor risco de demência em geral, mas era incerto se o mesmo se aplica a pessoas com alto risco genético. A boa notícia é que, mesmo para essas pessoas, viver com esse estilo de vida mais saudável leva a um risco menor”, afirma a pesquisadora do Centro Médico da Universidade do Mississipi e autora do estudo, Adrienne Tin, em comunicado.
O trabalho utilizou informações de mais de 10 mil pessoas, coletadas durante três décadas, que tinham idade média de 54 anos no início do período. Os cientistas descobriram que o conjunto de práticas conhecido como “os 7 simples da vida” conseguem reduzir em até 43% o risco de demência, até mesmo para aqueles com predisposição genética.
Os participantes foram avaliados em cada um desses critérios. Ao fim do período analisado, quando tinham em média 84 anos, entre aqueles que aderiram aos hábitos houve uma incidência de 6% a 43% menor das demências. O percentual variou de acordo com o número de práticas adotadas e a intensidade.
O neurologista Paulo Caramelli, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do Conselho Mundial de Demência (WDC), explica que, em 2020, uma comissão de pesquisadores internacionais referência no tema já havia listado fatores de risco considerados modificáveis em relação às demências, como obesidade, diabetes, perda auditiva, abuso de álcool e sedentarismo. Agora, ele destaca que o novo estudo comprova que hábitos simples que levam a uma redução desses fatores são de fato efetivos.
Isso acontece especialmente pela demência não ser uma doença única, mas sim uma síndrome causada por um conjunto de diagnósticos que leva a um comprometimento cognitivo em áreas como memória, atenção, linguagem e, eventualmente, ocasionam uma perda na capacidade de realizar tarefas do dia a dia. Essa síndrome, embora seja provocada pela doença do Alzheimer em cerca de 60% dos casos, pode também ser resultado de problemas vasculares, como um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ou outros quadros que causem uma neurodegeneração.
“E não é raro haver mais de uma causa. Então, embora estejamos avançando em medicamentos para o Alzheimer, que são extremamente importantes, há outras causas, o que alerta para a importância de se falar em prevenção”, afirma Caramelli.
Mas, mesmo para o Alzheimer, esses hábitos são efetivos. Ele esclarece que, embora exista de fato um componente genético ligado ao desenvolvimento da doença, ele é decisivo para o diagnóstico em apenas 1% dos casos.
“Então essa participação da genética é importante, mas não é determinante na grande maioria dos casos. Para essas pessoas, esses hábitos podem de fato prevenir o desenvolvimento da doença”, complementa o neurologista, que é vice-coordenador do conselho consultivo da Sociedade Internacional para Pesquisa Avançada em Alzheimer (ISTAART).
A neurologista Sonia Brucki, da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), reforça que nunca é muito cedo ou muito tarde para aderir às práticas que ajudam a proteger o cérebro de futuras demências.