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Cláudia Fam Carvalho Constituição rasgada

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(Foto: STF)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Nas psicoterapias a vivência do paciente é sempre mais importante do que a realidade dos fatos, ou seja, como a situação foi internalizada, como foi entendida por ele conta mais do que o que realmente ocorreu, pois trata-se de um tratamento emocional que visa justamente entender o paciente, suas distorções e fazer com que ele veja o mundo sob uma outra forma, de forma geral e simplificada, mais adaptativa e com menos sofrimento. Hoje, diante dos recentes acontecimentos no Brasil, me peguei pensando justamente sobre a realidade dos fatos e a interpretação que cada um de nós atribuiu a eles.

O que uns pensam ser um absurdo total para outros é a conduta mais ilibada possível. Os fatos são os mesmos, porém as opiniões são extremamente diferentes e polarizadas. Até aí, tudo bem, nada novo, somos todos diferentes, com vivências diferentes, com conjuntos de valores e princípios diferentes, com bagagens e background diferentes. Nada mais natural do que ver as coisas com nosso próprio filtro, não é?

Acredito que nunca se esperou unanimidade de pensamento para uma sociedade. Se em viagens de família não se consegue escolher um restaurante com facilidade, se em reuniões de condomínio não se consegue modificar muitas coisas porque nunca há unanimidade, por que se esperaria unanimidade de uma sociedade inteira?

Pelo contrário, cresci ouvindo que a pluralidade de pensamento, as divergências, as diferentes visões, sempre nos levariam a soluções melhores, porem infelizmente não é o que percebemos agora. Há uma crescente intolerância com a opinião do outro, deflagrada com maior intensidade após os desafios impostos pela pandemia e agora pelas diferentes visões políticas. Um caos total.

Agora fica a pergunta: E por quê, se toda unamidade é burra? Por que não chegamos a melhores soluções com tantas cabeças pensantes? Por que as diferentes visões não nos ajudaram a compor resultados mais adequados quanto a temas tão importante quanto vacinação, eleições, urnas, prisões, solturas?

Para mim, o furo da bala está na falta de moderação justa e coerente por parte do poder judiciário. As leis são necessárias justamente para resolver impasses, juízes são essenciais para mediar os conflitos que as partes sozinhas não conseguiram resolver, tal qual um líder mais hábil e respeitado na família pode facilmente escolher o restaurante e o síndico do condomínio pode apontar o caminho para que a assembleia não seja infindável. Precisamos atribuir poder a algumas pessoas que estejam engajadas na solução dos conflitos e estejam abaixo das leis criadas pela coletividade, pois representam o interesse comum.

Digressão feita, que me remeteu a história do Direito, porque antes de fazer medicina, cursei 4 semestres da faculdade de Direito (quem sabe um dia ainda volto?), voltemos ao assunto.

O que aconteceria se, por exemplo, o patriarca da família tivesse um filho preferido e todas as suas escolhas fossem para contemplar apenas os desejos daquele único filho ou como seria se o síndico mudasse a convenção de condomínio multando a todos que ousassem reclamar do barulho que sua própria família causava?

Ao que tudo indica, nossos moderadores não mais representam a coletividade, visto a quantidade de pessoas inconformadas com suas decisões.

Quando não há lei e não há liderança justa comprometida com a lei, ficamos na barbárie ou voltamos a lei de Talião; olho por olho, dente por dente. Invariavelmente as pessoas fazem justiça com as próprias mãos, mais cedo ou mais tarde, de um jeito ou de outro. Não vislumbro pacificação se não houver uma retomada da obediência às leis e um poder judiciário fiel a Constituição Brasileira. Enquanto ela estiver rasgada no plano abstrato estará também rasgada no chão da Praça dos Três Poderes.

 

Claudia Fam Carvalho
Psiquiatra e Psicoterapeuta

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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