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Cláudia Fam Carvalho Samba de verão

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(Foto: Freepik)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Esse verão resolvi tirar um mês de férias. Não lembro há quanto tempo não fazia isso. Pensando bem, talvez, nunca tenha o feito, desde que virei adulta e o maldito dever me chamou.

Meu plano era sair por 2 semanas. Mas em uma conversa com meu pai, ele disse algo do tipo: “Tu vais deixar o verão passar para ir para praia. Agora que está bom lá”. Algo me balançou, fez cair uma ficha.

O tempo passa.

As crianças crescem e nada mais precioso do que a infância dos filhos.

Será que eu estava deixando o tempo passar? Será que estava dormindo no ponto, deixando o melhor passar? Será que eu estava preocupada demais com o futuro e cega para o que mais importa para o futuro dos meus filhos?

Minha presença AGORA é fundamental (em breve não será, o que certamente me fará escrever de novo, mas cada coisa ao seu tempo, né?). Hoje me contento em fazer a diferença na vida dessas pequenas criaturas maravilhosas que iluminam a minha vida e dão sentido a tudo.

Pedi para minha fiel escudeira e secretária, sempre pronta para ajudar com as remarcações e sai de fininho. Apesar de um pouco de culpa, sentimento do qual é impossível escapar, entrei em rota de fuga da cidade, dos compromissos, dos boletos e me joguei na magia do verão, onde as minhas únicas preocupações era sol, mar e céu azul.

Demorei uns dias até desacelerar. Nos primeiros dias, passava limpando a casa, lavando roupa e indo no super. Não tenho bem certeza se isso era angústia minha ou, de fato, necessidade. Meu marido estava sozinho na praia com as crianças nos dias que me antecederam (porque nós dividimos um pouco para deixá-los o máximo de tempo aqui) e na gestão dele parece que incrívelmente não houve nenhuma lavagem de roupas, nem de toalhas, de nada. Também não havia horário para vir jantar, dentre outras cositas mas, gandaia total.

Mais uma vez, vi o quanto precisavam de mim e fiquei contente por ter vindo. Meu marido é um super pai, não me entendam mal, eu é que não poderia esperar que ele fosse fazer o meu papel. Ele já faz a função dele e muito bem. Nos protege sempre.

Só que as mães são diferentes. Somos atentas ao mundano e, às vezes, até parecemos de outro planeta, com nossos poderes sobrenaturais. Sexto sentido apuradíssimo é pouco para descrever as percepção das mães, sabem direitinho quando aconteceu alguma coisa com seus filhotes, quando estão cansados, quando precisam de um colo.

Não posso dizer que não houveram reclamações da nova gestão. Não curtiram muito ter que tomar banho, vir jantar ou ao menos dar notícia quando anoitecia. Junto com a minha mãe, lembrei da minha avó e contei histórias dela para os meus filhos. Ensinamentos de vida. Regras de convívio e comportamento e eles riam muito. Hoje já temos uma linguagem nossa e quando falo “vás amiúde ” me entendem bem. Coisas que só o tempo, o convívio intenso, permite.

Nada melhor do que ver meus filhos acordarem de manhã. Lavar as roupas deles. Ouvir suas histórias, saber todas as “tretas” com os amigos e acompanhar suas aventuras e descobertas.

Pequenos momentos de extrema felicidade estampados nos seus rostinhos quando fizeram um gol ou foram incluídos num grupo de WhatsApp fizeram de mim a pessoa mais feliz desse veraneio. Pude mergulhar no universo infantil e adolescente, como numa imersão, e resgatar um pouco do que eu mesma fui um dia. Um reencontro comigo mesma, com o que eu quero e sou. Ficou claro que não devo desviar da minha própria natureza, o simples me faz muito bem. Ousaria dizer até um pouco mais, a la Sapiens, estava alinhada à minha natureza animal. Foi como uma onda forte na cabeça, sentido literal e figurado.

Muita atividade física, ginástica funcional- varrendo, molhando a grama, indo para praia, carregando coisas, corridas e, até, surf teve. Gostei muito de viver esses dias quentes e ensolarados, encontrei amigos, antigos e novos, vi filmes, li um livro, ouvi música. Tomei muita água de coco e moderadamente Heineken, “vás amiúde, Claudia”.

Andei correndo demais. Isso é óbvio.

Não poderei ficar de férias para sempre (até porque estou com saudade dos meus pacientes, que em algum nível são minhas crianças grandes), mas uma coisa é certa: tentarei fazer verão o ano inteiro.

Claudia Fam Carvalho
Médica psiquiatra e psicoterapeuta

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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