Terça-feira, 22 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 21 de julho de 2025
Há preocupação no governo e no Banco Central com o impacto no câmbio a curto prazo.
Foto: FreepikO acirramento da crise política e comercial com o governo dos Estados Unidos elevou a incerteza em relação ao comportamento da taxa de câmbio quando chegar 1º de agosto, data limite para a ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de sobretaxar em 50% as exportações brasileiras.
Na véspera do anúncio, o dólar fechou em R$ 5,44. Chegou a subir para R$ 5,589 nos dias seguintes, mas caiu para um patamar em torno de R$ 5,55 sem uma retaliação imediata do Brasil.
O quadro mudou depois que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou o ex-presidente Jair Bolsonaro usar tornozeleira eletrônica, na sexta-feira (18). A cotação subiu 0,75%, fechando em R$ 5,58, após o valor ter se aproximado de R$ 5,60 durante o pregão.
Com a tensão política, aumentou a preocupação no governo e no Banco Central com o impacto no câmbio a curto prazo. Lula criou um comitê, chefiado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, para discutir com empresários uma ação para evitar o tarifaço, mas não há sinais de abertura de diálogo com o governo norte-americano.
Uma autoridade econômica do governo admitiu que, se o tarifaço de Trump se confirmar, a cotação do dólar pode “avançar um pouco mais”. Ela lembrou que uma alta de R$ 0,20 já machuca o câmbio porque representa, na prática, três meses do efeito de operações de carry trade na redução do dólar ante o real que “vão embora”.
Nesse tipo operação, o investidor toma dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos e investe em outro que ofereça taxas mais altas. Na prática, o impacto do anúncio do tarifaço neutraliza parte do efeito de valorização do real com o diferencial de juros entre a taxa Selic —hoje em 15%— e os juros nos Estados Unidos.
Para outro integrante do governo Lula, a confirmação da sobretaxa tende a levar a um movimento de alta rápida nos dias em torno de 1º de agosto. Na sua avaliação, porém, deverá ser um ciclo curto de volatilidade com a tendência de a taxa de câmbio ficar ao redor do que está.
Ele destaca que a movimentação está mais relacionada a uma tentativa de arbitragem (estratégia financeira de compra e venda de moedas diferentes para aproveitar as variações de preço e obter lucro) do que com o nível de câmbio que prevalecerá no futuro.
Uma das razões apontadas pelo economista do governo é que neste ano há um refluxo do dólar nos Estados Unidos. Os recursos se espalham pelo mundo e o Brasil ganha com esse movimento —um exemplo é a apreciação cambial observada no último trimestre.
Com o diferencial de juros que o Brasil oferece em relação a outros países, tem valido a pena investir no país. Um ponto citado pelo integrante do governo é que o nível de juros atual implica um custo maior de fazer posição em derivativos (instrumentos financeiros cujo valor deriva de taxas de câmbio) contra o real.
Esse é um cenário diferente de 2024, quando os fundos brasileiros estavam vendidos em real, posição de aposta da queda do valor da moeda brasileira em relação ao dólar. Na época, havia incertezas em relação à definição dos juros pelo Fed, o banco central dos Estados Unidos, e às eleições americanas.
A pauta exportadora brasileira, com muitos produtos de commodities (com preços e demanda determinados pela demanda global), pesa na expectativa de não se esperar um movimento mais alto de dólar do país após o impacto a curto prazo. Além disso, a Bolsa brasileira continua barata, o que é um atrativo para quando o horizonte estiver menos turvo.
(Com informações do jornal Folha de S.Paulo)