Quarta-feira, 31 de dezembro de 2025
Por Ali Klemt | 18 de fevereiro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Sempre achei interessante o quanto os anúncios comerciais integram a nossa cultura, expressam o momento que estamos vivendo e, quando certeiros, tocam o nosso coração, fazendo chorar ou sorrir, nos marcando para sempre.
Quem não se lembra da propaganda da “pipoca e guaraná, que programa legal”? Ou a dos “dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles em um pão com gergelim”? Para não ficar apenas com o eu nos dá água na boca, lembro até hoje do anúncio do chocolate Laka, retratando um amor adolescente em um dia de chuva ao som de A-HA? As clássicas propagandas de Natal do Zaffari são um caso à parte, tornaram-se até mesmo motivo de expectativa – ficamos esperando o seu lançamento, anualmente. E eu tenho imenso carinho pela dos bichinhos da Parmalat, da Galinha Azul da Maggi e do shampoo da Turma da Mônica (“dentro do banheiro, embaixo do chuveiro, lavo os meus cabelos e deixo o corpo todo ensaboadooooo”). Não me perguntem o porquê, eu era uma criança dos anos 80 e adorava!
São muitas as propagandas que marcaram a nossa trajetória, às vezes até mesmo provocando e fazendo críticas políticas. Eu era pequena, mas lembro do jingle “Marcilio abre a mão, Marcilio abre a mão…”, referindo-se ao então Ministro da Economia. Isso sem falar no poder de criação, até mesmo, de novos termos, quando uma propaganda de incentivo ao uso da camisinha acabou tornando o nome “Bráulio” o equivalente “carinhoso” do genital masculino, criando um problema para todos os Bráulios do Brasil.
Isso sem falar nas campanhas com viés social, como as da Dove, que quebraram paradigmas ao ter coragem de mostrar a real face das mulheres, enfrentando os até então rígidos padrões de beleza – em geral, inatingíveis. Foi um alívio para e um passo importante para a normalização de nossas imperfeições.
Quero dizer, com tudo isso, que anúncios publicitários acompanham o andar da sociedade, retratando seus desejos, inseguranças e anseios. São um espelho importante do nosso momento atual.
E o que significa, então, a crítica generalizada ao anúncio do Burger King? Para quem não acompanhou a “treta”, a marca lançou um comercial promovendo sanduíches de tamanho gigante, protagonizado pela ex-ator pornô Kid Bengala – calma, ele está devidamente vestido, alimentando-se no restaurante como qualquer ser humano normal). Porém, ao degustar a comida, ele não poupa referências ao tamanho “das coisas”, se é que você me entende. A ideia é ser engraçado. Mas está difícil fazer humor no Brasil.
Apesar do mau gosto, não passa disso. A empresa, porém, foi duramente criticada nas redes por ter um apelo sexual indesejado.
Confesso, achei uma propaganda boboca, quase como se fosse feita por adolescentes do ensino médio, de tão superficial. Fraca. Daí a cancelar a veiculação são outros quinhentos. Não se pode usar humor barato para vender, porém temos que aceitar o absurdo baixo nível do nosso atual repertorio musical brasileiro como se isso fosse cultura? Porque a patrulha do politicamente correto não se volta para quem vem efetivamente promovendo a sexualização de nossas crianças em outras esferas?
Deixa que o mercado reaja naturalmente ao Whopper gigante e resolva comprá-lo. Ou não.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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