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Colunistas Dever de casa

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Algo deve mudar para que tudo continue como está. A frase nos remete ao autor de II Gattopardo, Giuseppe di Lampedusa, que conta, nesse romance histórico, as dores da aristocracia siciliana diante da unificação da Itália. As coisas deveriam mudar para que os privilégios fossem garantidos, o que até certo ponto, não deixou de acontecer. A mudança sempre impõe desafios, seja para quem quer ver uma nova ordem estabelecida, seja para quem luta para continuar a desfrutar de uma condição favorável. Mas a atualidade da frase, proferida pelo Príncipe de Falconeri, não ficou restrita a uma Itália em processo de união e sim consagrou-se em atualíssima questão, de tal modo que ainda orienta aqueles que almejam conquistar e manter o poder.

Na Rússia, por exemplo, o ditador Putin obteve mais seis anos de mandato, perpetuando um sonho em vida, como já um dos mais longevos Czares, embora sem fazer parte da família Romanov. O fato de não ter “sangue azul” pouco tem importado ao onipotente Presidente da Rússia moderna, uma vez que seus poderes agora estão muito mais assustadores, montado que está em seu cavalo atômico. Ademais, no tabuleiro que ora se desenha o futuro do planeta, o ressurgimento de Trump como possível vencedor das eleições americanas joga ainda mais pimenta no tempero da geopolítica internacional. Com Trump eleito, as relações com a China e suas pretensões nada modestas como liderança global emergente devem sofrer grandes transformações. O inevitável protagonismo do gigante asiático insinua um ataque à hegemonia do Dólar enquanto moeda de domínio absoluto nas transações comerciais, o que promete desestabilizar ainda mais a agenda entre esses dois portentos da geopolítica mundial. Além disso, a questão de Taiwan, a situação entre Israel e o Hamas e a guerra na Ucrânia, sugerem que os próximos anos serão ainda mais instáveis e turbulentos.

No Brasil, mesmo sendo um ator global de menor importância, também os ventos da intranquilidade teimam em não dissipar. Com um ex-Presidente da República enredado até o pescoço em tenebrosas conspirações contra a democracia, situação agravada com depoimentos tornados públicos de seus antigos colaboradores, inclusive das mais altas patentes das FFAAs, o clima político tem sido pródigo em alimentar a atual instabilidade. Não menos preocupante tem sido o comportamento de quem hoje ocupa a principal cadeira do Planalto. Sem conseguir encaminhar uma agenda de pacificação interna, Lula tem insistido em atuar com um protagonismo externo para o qual talvez lhe sirva mais como deleite de sua vaidade, enquanto se mantém distante de problemas reais que nos afligem. O exemplo envolvendo a empresa Vale, uma gigante da mineração mundial, privatizada há mais de vinte anos, na qual o Governo Federal buscou intervir indiretamente, é uma demonstração clara de como antigos cacoetes intervencionistas ainda são renitentes.

Mas algo deve mudar para que tudo continue como está. A propósito, Steven Levitsky e David Ziblatt, ambos professores em Harvard, estão se dedicando a escrutinar as razões da atual crise na democracia americana, não para que permaneça como agora se encontra, mas que seja capaz de mudar. Algo deve mudar, dizem Levitsky e Ziblatt, ou a sociedade americana não será uma democracia multirracial como estaria inclinada a ser. O mesmo prognóstico serve para amparar os demais desafios que as democracias ocidentais enfrentam, seja no Brasil, na Argentina, na Turquia ou em qualquer país onde os fundamentos democráticos estão em risco ou devem ser fortalecidos. Se quisermos que o Brasil possa buscar uma inserção mais adequada no presente mosaico geopolítico mundial, o primeiro dever é o de casa. Nenhuma reforma ou avanço será possível com um País cindido ao meio, com parte importante dos brasileiros ressentidos e outra parte ainda imersa numa bolha sectária e contaminada por uma agenda de cunho totalitário. Talvez leve tempo, mas sem curar essas feridas abertas por maus democratas, tudo pode continuar como está e isso não é nada promissor.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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